A Origem das Espécies - Cap. 9: CAPÍTULO VIII HIBRIDISMO Pág. 266 / 524

É certo, por um lado, que o grau de esterilidade de várias espécies quando cruzadas difere a tal ponto e desaparece gradativamente de uma maneira tão imperceptível e, por outro lado, que a fertilidade das espécies puras é tão facilmente afectada por várias circunstâncias, que na prática é dificílimo saber onde termina a perfeita fertilidade e começa a esterilidade. Penso que não se pode ter melhor indício disto do que o facto de os dois observadores mais experientes que houve, nomeadamente, Kölreuter e Gärtner, terem chegado a conclusões diametralmente opostas a respeito da mesmíssima espécie. É também sobremaneira esclarecedor comparar - mas não tenho aqui espaço para entrar em detalhes - os indícios apresentados pelos nossos melhores botânicos sobre a questão de se dever classificar certas formas duvidosas como espécies ou como variedades, com os indícios a partir da fertilidade, aduzidos por diferentes hibridizadores, ou pelo mesmo autor, a partir de experiências feitas ao longo de vários anos. Pode-se assim mostrar que nem a esterilidade nem a fertilidade fornecem qualquer distinção nítida entre espécies ou variedades; mas que os indícios a partir desta fonte desaparecem gradativamente e são tão duvidosos como os indícios derivados de outras diferenças constitutivas e estruturais.

No que se refere à esterilidade dos híbridos em gerações sucessivas, embora Gärtner tenha podido criar alguns híbridos, salvaguardando-os cuidadosamente de um cruzamento com uma ou outra das antecessoras puras, durante seis ou sete gerações e, num caso, durante dez, ele afirma categoricamente que a fertilidade daquelas nunca aumentou, mas que geralmente decresceu muitíssimo. Não duvido de que seja normalmente este o caso e que a fertilidade não raro diminui subitamente nas primeiras gerações.





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