A Origem das Espécies - Cap. 1: INTRODUÇÃO Pág. 3 / 524

Ao considerar a origem das espécies, é inteiramente concebível que um naturalista, reflectindo sobre as afinidades mútuas dos seres orgânicos, as suas relações embrionárias, a sua distribuição geográfica, sucessão geológica e outros factos semelhantes, possa chegar à conclusão de que cada espécie não foi independentemente criada, mas que descende, como variedade, de outras espécies. Contudo, semelhante conclusão, ainda que bem fundamentada, seria insatisfatória enquanto não se pudesse mostrar como as inumeráveis espécies que habitam este mundo foram modificadas, de modo a adquirir aquela perfeição de estrutura e coadaptação que muito justificadamente suscitam a nossa admiração. Os naturalistas referem-se continuamente a condições externas, tais como o clima, a alimentação, etc., como a única causa possível da variação. Num sentido muito limitado, como veremos mais tarde, isto pode ser verdadeiro; mas é absurdo atribuir a meras condições externas a estrutura, por exemplo, do pica-pau, com os seus pés, cauda, bico e língua tão admiravelmente adaptados à captura de insectos sob a casca das árvores. No caso do visco branco, que retira o seu alimento de certas árvores, que tem sementes que têm de ser transportadas por certas aves e que tem flores com sexos distintos, exigindo em absoluto a acção de certos insectos para levar pólen de uma flor para outra, é igualmente absurdo explicar a estrutura deste parasita, e as suas relações com diversos seres orgânicos distintos, através dos efeitos de condições externas, ou do hábito, ou da volição da própria planta.

O autor de Vestígios da Criação diria, presumo, que após um certo número desconhecido de gerações, alguma ave dera origem a um pica-pau e alguma planta ao visco, e que





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