A Origem das Espécies - Cap. 1: INTRODUÇÃO Pág. 4 / 524

estas foram produzidas perfeitas como agora as vemos; mas esta pressuposição não me parece explicar coisa alguma, pois deixa intocado e inexplicado o caso das coadaptações de seres orgânicos uns aos outros e às suas condições físicas de vida.

É portanto da mais elevada importância obter uma ideia sagaz clara dos meios de modificação e coadaptação. No começo das minhas observações, parecia-me provável que um estudo cuidadoso dos animais domesticados e plantas de cultivo ofereceria a melhor oportunidade de compreender este problema obscuro. Tão-pouco me desapontei; neste e em todos os outros casos desconcertantes, descobri invariavelmente que o conhecimento que temos, por muito imperfeito que seja, da variação sob domesticação, nos deu a melhor e a mais segura pista. Posso arriscar exprimir a minha convicção acerca do elevado valor de tais estudos, embora tenham sido muito comummente descurados pelos naturalistas.

A partir destas considerações, dedicarei o primeiro capítulo deste resumo à variação sob domesticação. Veremos assim que uma grande quantidade de modificação hereditária é pelo menos possível; e veremos, o que é tão ou mais importante, como é grande o poder do homem ao acumular através da sua selecção sucessivas variações ligeiras. Passarei então à variabilidade das espécies em estado de natureza; mas serei infelizmente obrigado a tratar este assunto com excessiva brevidade, uma vez que só pode ser tratado apropriadamente através da apresentação de extensos catálogos de factos. Poderemos, todavia, discutir quais as circunstâncias mais favoráveis à variação. No capítulo seguinte, a luta pela existência entre todos os seres orgânicos em todo o mundo, que decorre inevitavelmente dos seus elevados poderes de proliferação geométrica, será o assunto abordado.





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