A Origem das Espécies - Cap. 13: CAPÍTULO XII
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA (continuação) Pág. 413 / 524

Algumas espécies de moluscos de água doce têm uma distribuição muito ampla, e espécies próximas, que, segundo a minha teoria, descendem de uma antecessora comum e têm de proceder de uma única fonte, prevalecem em todo o mundo. A sua distribuição deixou-me de início bastante perplexo, dada a improbabilidade de os seus ovos serem transportados por aves e por serem imediatamente destruídos pela água salgada, bem como os adultos. Não conseguia sequer compreender como algumas espécies naturaliza das se propagaram rapidamente na mesma região. Mas dois factos, que observei - e sem dúvida muitos outros continuam por observar -, esclarecem um pouco este assunto. Quando um pato emerge subitamente de um lago coberto de lentilhas-de-água, observei duas vezes estas pequenas plantas aderirem ao dorso da ave; e aconteceu-me, ao mover um pouco de lentilha-de-água de um aquário para outro, ter abastecido acidentalmente um com moluscos de água doce do outro. Mas há outro factor que talvez seja mais eficaz: suspendi os pés de um pato, que poderiam representar os de uma ave a dormir num lago natural, num aquário, onde chocavam ovos de moluscos de água doce; e descobri que uma série de moluscos extremamente pequenos e acabados de eclodir subiram para os pés e se agarraram tão firmemente a estes que, ao serem tirados da água, não foi possível sacudi-los, embora numa fase posterior saíssem voluntariamente. Estes moluscos acabados de sair do ovo, embora de natureza aquática, sobreviveram nos pés do pato, em ar húmido, entre 12 a 20 horas; e, neste período de tempo, um pato ou uma garça poderiam voar pelo menos 600 ou 700 milhas, e pousariam seguramente num lago ou ribeiro, se arrastados pelo vento, através do mar, para uma ilha oceânica ou para qualquer outro ponto distante.





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