A Origem das Espécies - Cap. 14: CAPÍTULO XIII
AFINIDADES MÚTUAS DOS SERES ORGÂNICOS. MORFOLOGIA. EMBRIOLOGIA. ÓRGÂOS RUDIMENTARES. Pág. 466 / 524

ser mais diferente do que a imensamente longa probóscide espiral de uma mariposa-esfinge, a curiosa probóscide dobrada de uma abelha ou percevejo, e as grandes mandíbulas de um escaravelho? - Porém todos estes órgãos, servindo propósitos tão diferentes, são formados por modificações infinitamente numerosas de um lábio superior, mandíbulas e dois pares de maxilas. Leis análogas regem a construção das bocas e membros dos crustáceos. O mesmo sucede com as flores das plantas.

Nada pode ser mais vão do que tentar explicar esta semelhança de padrão nos membros da mesma classe através da utilidade ou da doutrina das causas finais. A inutilidade da tentativa foi expressamente admitida por Owen no seu interessantíssimo trabalho sobre a «Natureza dos Membros». Na perspectiva comum da criação independente de cada ser, podemos apenas afirmar que é assim - que assim agradou ao Criador construir cada animal e planta.

A explicação é evidente segundo a teoria da selecção natural de ligeiras modificações sucessivas - sendo cada modificação vantajosa de alguma maneira à forma modificada, mas afectando frequentemente por correlação de crescimento outras partes da organização. Em mudanças desta natureza, haverá pouca ou nenhuma tendência para modificar o

.padrão original, ou para transpor partes. Os ossos de um membro poderiam ser encurtados e alargados até qualquer ponto, envolvendo-se gradualmente numa membrana espessa, de modo a servir de barbatana; ou todos os ossos de um pé membranoso, ou só alguns, poderiam ser indefinidamente prolongados, e a membrana que os liga indefinidamente aumentada, de modo a servir como uma asa: porém, em toda esta grande quantidade de modificação não haverá qualquer tendência para alterar a estrutura dos ossos ou a conexão relativa das diversas partes.





Os capítulos deste livro