mas úteis, que a natureza lhe proporciona, Mas a selecção natural, como veremos mais tarde, é um poder incessantemente pronto a actuar e tão imensuravelmente superior aos esforços débeis do homem como as obras da natureza são perante as da arte.
Discutiremos agora um pouco mais detalhadamente a luta pela existência. No meu trabalho futuro este assunto será tratado, como bem merece, muito mais exaustivamente. O velho De Candolle* e Lyell mostraram ampla e filosoficamente que todos os seres orgânicos estão sujeitos a uma competição severa. No que se refere às plantas, ninguém tratou este assunto com maior dedicação e competência do que W. Herbert, Decano de Manchester, sem dúvida em virtude do seu vasto conhecimento de horticultura. Nada mais fácil do que admitir verbalmente a verdade da luta universal pela vida, ou mais difícil - pelo menos assim me pareceu - do que manter sempre presente esta conclusão. Porém, a menos que deixe uma impressão indelével na mente, estou convencido de que toda a economia da natureza, com todos os factos acerca da distribuição, raridade, abundância, extinção e variação, será ou obscuramente percebida ou completamente incompreendida. Contemplamos o rosto da natureza radiante de alegria, vemos frequentemente superabundância de alimentos; não vemos, ou esquecemos, que as aves que cantam ociosamente à nossa volta vivem na sua maioria de insectos ou sementes, e portanto estão sempre a destruir vida; ou esquecemos quão frequentemente estas aves canoras, ou os seus ovos, ou as suas crias, são destruídos por aves de rapina e outros predadores; nem sempre temos presente que ainda que haja agora uma superabundância de comida, o mesmo não acontece em todas as estações de cada ano.
* Augustin Pyrame de Candolle (1778-1841), botânico suíço, pai de Alphonse Pyrame de Candolle (1806-1893).