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Capítulo 12: III

Página 110
Tomados pela surpresa desta nova suavidade, não pensarem em falar um ao outro da sensação que lhes causava, nem em descobrir-lhe a causa. As felicidades futuras, como as praias tropicais, projec- na imensidade que as precede os seus langores natais, uma brisa perfumada, entorpecendo-nos numa embriaguez que não nos deixa inquietar com o horizonte que não se vê terra, em certo lugar, afundara-se com a passagem dos animais; era preciso caminhar sobre umas grandes pedras verdes dispostas, de espaço espaço, sobre a lama. Muitas vezes Emma parava um minuto para ver onde havia de apoiar a botina e, vacilando sobre a pedra que oscilava, de joelhos levantados, dobrada pela cintura, olhar indeciso, ria, então, com medo de cair nas poças de água.

Quando chegaram à entrada do jardim dos Bovary, Emma empurrou cancela, subiu os degraus a correr e desapareceu.

Léon voltou para o escritório. O patrão estava ausente; lançou um olhar sobre os molhos de documentos, aparou uma pena, pegou por fim no chapéu e saiu.

Subiu até ao Pasto, no alto da encosta de Argueil, à entrada da floresta; deitou-se no chão, debaixo dos pinheiros, e pôs-se a fixar o céu através dos dedos cruzados sobre os olhos.

- Que tédio! - dizia ele para consigo. - Que vida aborrecida! Lamentava-se de viver naquela aldeia, tendo Homais como amigo e Guillaumin como patrão. Este último, sempre absorvido no trabalho, com óculos de aros de ouro e suíças ruivas por cima de um lenço branco, não entendia nada das delicadezas do espírito, apesar de afectar um temperamento rígido e inglês que deslumbrara o escriturário nos primeiros tempos. Quanto à mulher do farmacêutico, era a melhor esposa da Normandia, mansa como um cordeiro; acariciava os filhos, o pai, a mãe, os primos, chorava com as desgraças dos outros, deixava andar tudo em casa de qualquer maneira e detestava os espartilhos, mas era tão lenta de movimentos, tão maçadora quando falava, tinha um aspecto tão vulgar e uma conversação tão restrita, que, embora, tivesse trinta anos e ele vinte, dormissem ambos porta com porta e lhe falasse todos os dias, jamais pensaria que ela pudesse ser mulher para alguém, ou que tivesse do sexo algo mais além das salas.

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pág. 110 (Capítulo 12)

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Capa do livro Madame Bovary
Páginas: 382
Página atual: 110

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
PRIMEIRA PARTE – I 1
II 12
III 22
IV 29
V 36
VI 40
VII 46
VIII 54
IX 66
SEGUNDA PARTE – I 79
II 90
III 97
IV 112
VI 126
VII 140
VIII 150
IX 175
X 186
XI 196
XII 209
XIII 224
XIV 234
XV 246
TERCEIRA PARTE – I 255
II 271
III 282
IV 285
V 289
VI 307
VII 325
VIII 339
IX 357
X 366
XI 373