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Capítulo 16: VIII

Página 164
São uma data de velhos caturras de colete de flanela e de beatas de escalfeta e rosário na mão, repetindo-nos sempre a mesma cantilena aos ouvidos: «O dever! O deverl» Caramba! O dever é sentir aquilo que é grande, amar o que é belo e não aceitar todas as convenções da sociedade, com as ignomínias que ela nos impõe.

- No entanto..., no entanto... - objectava a Sr: Bovary.

- Oh, não! Porque se há-de declamar contra as paixões? Não são elas

a única coisa bela que existe na terra, a fonte do heroismo, do entusiasmo, da poesia, da música, das artes, enfim, de tudo?

- Mas é necessário - disse Emma - seguir um pouco a opinião da sociedade e obedecer à sua moral.

- Ah!, mas é que existem duas - replicou ele. - A mesquinha, a convencional, a dos homens, a que varia constantemente e berra tão alto que se agita no chão, terra a terra, como esta assembleia de imbecis que está a ver. Mas a outra, a eterna, essa circunda tudo e está acima de tudo, como a paisagem que nos rodeia e o céu que nos ilumina.

O Sr. Lieuvain, que acabava de limpar a boca com o lenço de bolso, continuou:

«Que necessidade teria eu, meus senhores, de vos demonstrar aqui a utilidade da agricultura? Quem é então que provê às nossas necessidades? Quem fornece a nossa subsistência? Não será o agricultor? O agricultor, meus senhores, que, semeando com mão laboriosa os sulcos fecundos dos campos, faz nascer o trigo, que, moído, se toma em pó por meio de engenhosos aparelhos, tomando o nome de farinha, e que, transportado para as cidades, logo chega à loja do padeiro, o qual com ele confecciona um alimento que se destina tanto aos pobres como aos ricos. Não é ainda o agricultor quem, para o nosso vestuário, cria nos pastos os seus numerosos rebanhos? Como nos vestiríamos nós e como nos alimentaríamos sem o agricultor? E será mesmo necessário, meus senhores, procurar exemplos tão longe? Quem não reflectiu frequentemente na grande importância que para nós tem esse modesto animal, ornamento das nossas capoeiras, que fornece, simultaneamente, uma macia almofada para as nossas camas, a sua carne suculenta para as nossas mesas e ainda os ovos? Mas não chegaríamos ao fim se fosse preciso enumerar, um após outro, todos os produtos que a terra bem cultivada, qual mãe generosa, distribui prodigamente pelos seus filhos.

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pág. 164 (Capítulo 16)

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Capa do livro Madame Bovary
Páginas: 382
Página atual: 164

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
PRIMEIRA PARTE – I 1
II 12
III 22
IV 29
V 36
VI 40
VII 46
VIII 54
IX 66
SEGUNDA PARTE – I 79
II 90
III 97
IV 112
VI 126
VII 140
VIII 150
IX 175
X 186
XI 196
XII 209
XIII 224
XIV 234
XV 246
TERCEIRA PARTE – I 255
II 271
III 282
IV 285
V 289
VI 307
VII 325
VIII 339
IX 357
X 366
XI 373