Mas, fosse porque não tivesse notado a manobra ou porque não se atrevesse a tentá-la, já a oração terminara e ainda o caloiro conservava o boné em cima dos joelhos. Era um daqueles barretes compostos por elementos de boina de feltro, boné turco, chapéu redondo, gorro de peles e carapuça de algodão; uma coisa medíocre, enfim, daquelas cuja fealdade muda tem profundidades de expressão semelhantes às do rosto de um imbecil. Ovóide e armado com barbas de baleia, o boné começava por três chouriços circulares; depois alternavam-se, separados por uma tira vermelha, losangos de veludo e pele de coelho; vinha depois uma espécie de saco que terminava num polígono cartonado, coberto por um complicado bordado a sutache, donde pendia, na extremidade de um cordão demasiado fino, uma pequena borla de fios de ouro, à maneira de bolota. Era novo; a pala reluzia.
- Levante-se - disse o professor.
Levantou-se; o barrete caiu. Toda a classe desatou a rir.
Abaixou-se para o apanhar. O colega do lado voltou a fazê-lo cair com Urna cotovelada e o rapaz apanhou-o novamente.
- Deixe lá o boné - disse o professor, homem dotado de um certo humorismo.
Houve uma gargalhada geral dos alunos que desconcertou o pobre rapaz, de modo que não sabia se devia conservar o barrete na mão, deixá-lo no chão ou enfiá-lo na cabeça. Voltou a sentar-se e a pô-lo em cima dos joelhos. - Levante-se - repetiu o professor - e diga-me o seu nome.
O caloiro articulou, com voz titubeante, um nome ininteligível.
- Repita!
Ouviu-se o mesmo balbuciar de sílabas, abafado pela galhofa da classe.
- Mais alto! - gritou o professor. - Mais alto!
O caloiro, tomando então uma resolução extrema, abriu desmesuradamente a boca e atirou a plenos pulmões, como se fosse para chamar alguém, esta palavra: Charbovari.