Tuva mulher do administrador, não arredava da janela, na impaciência de chegar o operador.
Este chegou conduzindo o seu próprio cabriolé. Mas, como a mola do lado direito acabara por se cansar com o peso da sua corpulência, acontecia que o veículo seguia um pouco tombado, deixando ver, no outro lado que o boticário se deixava ficar ao pé de Artémise e da estalajadeira, mais pálidas as duas do que os aventais que traziam, e de ouvido apurado na direcção da porta.
Enquanto isto se passava, Bovary não se atrevia a sair de casa. Manteve-se em baixo, na sala, sentado ao pé do fogão apagado, de queixo encostado ao peito, as mãos juntas, os olhos parados. «Que infelicidade», pensava ele, «que desilusão!» Tomara, no entanto, todas as precauções imagináveis. Fora a fatalidade que se lhe atravessara no caminho. De qualquer maneira, se Hippolyte viesse ainda a morrer, teria sido ele a assassiná-lo. E, depois, que razões poderia apresentar quando fosse visitar doentes e lhe fizessem perguntas? Talvez, entretanto, se tivesse enganado em qualquer coisa? Procurava, mas não encontrava. Contudo, até os mais famosos cirurgiões estavam sujeitos a enganar-se. Nisso ninguém iria acreditar! Pelo contrário, iriam rir-se e falar mal! O caso espalhar-se-ia até Forges!, até Neufchâtell, até Ruão!, por toda a pane! Quem sabe se alguns colegas não iriam escrever contra ele? Isso daria lugar a uma polémica, seria necessário responder pelos jornais. O próprio Hippolyre poderia mover-lhe um processo. Via-se desacreditado, arruinado, perdido! E a sua imaginação, assaltada por uma multidão de hipóteses, balouçava no meio de todas elas como um barril vazio lançado ao mar, rolando sobre as ondas.
Emma, na frente dele, fitava-o; não participava da sua humilhação, mas sentia outra: a de ter imaginado que semelhante homem pudesse ter algum valor, como se não tivesse já verificado dezenas de vezes a sua mediocridade.