Emma tinha uma quantidade delas no seu armário, que estragava como lhe apetecia, sem que Charles se permitisse fazer-lhe a mínima observação.
Do mesmo modo desembolsou ele trezentos francos por uma perna de madeira que ela achou conveniente oferecer a Hippolyte. Era enchumaçada de cortiça, tinha articulações com molas, um complicado mecanismo coberto por uma calça preta e a terminar numa bota envernizada. Mas Hippolyte, não se atrevendo a usar todos os dias uma perna tão bonita, suplicou à Sr. Bovary que lhe arranjasse outra mais simples. O médico, bem entendido, fez ainda mais essa despesa.
O moço de cavalariça recomeçou então, pouco a pouco, a sua actividade. Viam-no, como antes, percorrer toda a aldeia e, quando Charles ouvia de longe o bater seco da sua perna de pau sobre a calçada, apressava-se rapidamente a tomar por outro caminho.
Fora o Sr. Lheureux, o mercador, que se encarregara da encomenda; isso proporcionava-lhe ocasião de conversar de vez em quando com Emma. Falava-lhe das novidades recebidas de Paris, de mil curiosidades femininas, mostrava-se muito complacente e nunca reclamava dinheiro. Emma deixava-se ir nesta facilidade de satisfazer todos os caprichos. Assim, ela quis mandar vir, para oferecer a Rodolphe, um lindíssimo pingalim que existia em Ruão, num armazém de chapéus-de-chuva. O Sr. Lheureux, na semana imediata, apresentou-lho em cima da mesa.
Mas logo no dia seguinte lhe apareceu em casa com uma factura de duzentos e setenta francos, sem contar os centavos. Emma ficou muito embaraçada: todas as gavetas da secretária estavam vazias; deviam-se mais de quinze dias a Lestiboudois, dois trimestres à criada, ainda uma quantidade de outras coisas, e Bovary esperava impacientemente o envio que o Sr.