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Capítulo 20: XII

Página 213
Entretanto, estas ofertas humilhavam-no. Recusava algumas; ela insistia e Rodolphe acabava por obedecer, achando-a tirânica e demasiado Importuna.

Depois, ela tinha ideias estranhas:

- Quando bater a meia-noite - dizia ela -, pensa em mim! E, se ele confessava ter-se esquecido, fazia-lhe uma quantidade de censuras, terminando sempre com a eterna pergunta:

-Amas-me?

- Claro que te amo! - respondia ele.

- Muito?

- Com certeza!

- E nunca amaste outras?

- Julgas então que me conheceste virgem? - exclamava ele, rindo.

Emma chorava e ele esforçava-se por consolá-la, enfeitando com trocadilhos os seus protestos.

- Oh!, é que eu amo-te! - prosseguia ela. - Amo-te a ponto de não, poder passar sem ti, sabes isso? Às vezes tenho desejos de te ver e sinto-me atormentada por todas as fúrias do amor. Ponho-me a perguntar: «Onde estará ele? Quem sabe se está a falar com outras mulheres? Elas sorriem-lhe, ele aproxima-se...» Mas não! Nenhuma outra te agrada, não é verdade? Há algumas mais belas; mas eu sei amar melhor! Sou tua serva e tua concubina! Tu és o meu rei, o meu ídolo!, tu és bom!, tu és belo!, tu és inteligente!, tu és forte!

Tantas vezes havia ele escutado estas coisas, que já não lhes encontrava nenhuma originalidade. Emma assemelhava-se a todas as amantes; e o encanto da novidade, pouco a pouco, caindo como a roupa que se despe, deixava a nu a eterna monotonia da paixão, que tem sempre as mesmas formas e a mesma linguagem.

Rodolphe, um homem com tanta prática, não distinguia a diferença de sentimentos na semelhança das expressões. Porque lábios libertinos ou venais lhe haviam murmurado frases do mesmo género, só muito vagamente acreditava na ingenuidade daquelas; era preciso dar o desconto, pensava ele, aos discursos exagerados que escondem afeições medíocres; como se a plenitude da alma não transbordasse por vezes nas metáforas mais ocas, já que jamais alguém pode dar a exacta medida das suas necessidades, ou das suas concepções, ou das suas dores, e que a palavra humana é como o caldeirão rachado em que se batem melódias para se fazer dançar os ursos, quando o que se pretendia era enternecer as estrelas.

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Capa do livro Madame Bovary
Páginas: 382
Página atual: 213

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
PRIMEIRA PARTE – I 1
II 12
III 22
IV 29
V 36
VI 40
VII 46
VIII 54
IX 66
SEGUNDA PARTE – I 79
II 90
III 97
IV 112
VI 126
VII 140
VIII 150
IX 175
X 186
XI 196
XII 209
XIII 224
XIV 234
XV 246
TERCEIRA PARTE – I 255
II 271
III 282
IV 285
V 289
VI 307
VII 325
VIII 339
IX 357
X 366
XI 373