- Oh!, que noite maravilhosa! - disse Rodolphe.
- Vamos ter outras noites maravilhosas! - respondeu Emma.
E, como se falasse consigo mesma:
- Sim, vai ser bom viajar... Porque terei então, apesar de tudo, o coração triste? Será a apreensão do desconhecido..., o efeito dos hábitos que se abandonam..., ou será... ? Não, é o excesso de felicidade! Sou muito fraca, não sou? Perdoa-me!
- Ainda é tempo! - exclamou ele. - Pensa bem, que talvez te venhas a arrepender.
- Nunca! - respondeu ela impetuosamente. E, aproximando-se mais dele:
- Que infelicidade me poderá então acontecer? Não há deserto, nem precipício, nem oceano que eu não seja capaz de atravessar contigo. À medida que formos vivendo juntos, será como um abraço cada vez mais apertado, mais completo! Não teremos nada que nos perturbe, nenhuma preocupação, nenhum obstáculo! Estaremos sós, entregues a nós mesmos, eternamente... Fala, responde-me.
Ele ia respondendo a intervalos regulares: «Sim... sim!...» Emma passara-lhe as mãos pelos cabelos e repetia com uma voz infantil, apesar das grandes lágrimas que lhe corriam pelo rosto:
- Rodolphe! Rodolphe!... Oh!, Rodolphe, meu querido Rodolphe! Soou a meia-noite.
- Meia-noite! - exclamou ela. - Vamos, é amanhã! Só mais um dia! Ele levantou-se para se ir embora; e, como se aquele gesto de Rodolphe tivesse sido o sinal para a fuga, Emma, repentinamente, assumindo um tom alegre:
- Tens os passaportes?
-Tenho.
- Não te esqueces de nada?
- Não.
- Tens a certeza?
- Tenho a certeza.
- É no Hotel de Provença, não é, que esperas por mim?.., ao meio-dia?
Ele fez um gesto com a cabeça.
- Então, até amanhã! - disse Emma, com uma última carícia. E ficou a vê-lo afastar-se.
Rodolphe não se voltou.