Torcia-se sobre o braço dele, banhada em pranto. - Adeus!... adeus!... Quando voltarei a ver-te?
Voltaram atrás para se beijar mais uma vez, e foi nessa altura que ela lhe prometeu arranjar em breve, por qualquer meio, um processo de se verem livremente, com regularidade, pelo menos uma vez por semana. Emma não tinha dúvidas. Estava, além disso, cheia de esperanças. Contava receber dinheiro.
Por isso comprou para o quarto um par de cortinas amarelas, de riscas largas, que Lheureux lhe gabara como sendo a um bom preço; sonhou com um tapete, e Lheureux, afirmando «que não era nenhum bicho-de-sete-cabeças», encarregou-se delicadamente de lho fornecer. Emma já não podia dispensar-lhe os serviços. Mandava-o chamar vinte vezes por dia e ele largava logo o negócio, sem soltar um único queixume. Também não se compreendia por que razão a Tia Rolet almoçava todos os dias em casa dela e até lhe fazia visitas em segredo.
Foi por essa altura, ou seja, no começo do Inverno, que Emma pareceu tomada por um grande ardor musical.
Uma noite em que Charles a escutava, ela recomeçou quatro vezes o mesmo trecho, enganando-se sempre, enquanto aquele, sem notar nenhuma diferença, exclamava:
- Bravo!..., muito bem!... Não deves parar! Continua!
- Oh, não! É horrível! Tenho os dedos enferrujados.
No dia seguinte, Bovary pediu-lhe que tocasse mais qualquer coisa para ele ouvir.
- Vá lá, então, para te fazer a vontade!
E Charles concordou que estava um pouco esquecida.
Enganava-se nas pautas, atrapalhava-se; depois, parando de repente, exclamou:
- Acabou-se! Teria de tomar algumas lições; mas... Mordeu os lábios e acrescentou:
- Vinte francos de cada vez é demasiado caro!
- Sim, com efeito..., é um pouco caro.