Dubocage, o patrão, que foi perfeito a tratar do assunto. Reteve-o durante três quartos de hora, querendo desvendar-lhe os olhos, adverti-lo do abismo em que caía. Um enredo daqueles prejudicar-lhe-ia mais tarde a situação profissional. Suplicou-lhe que rompesse com a ligação e, se não queria sacrificar-se no seu próprio interesse, então que o fizesse ao menos por ele, Dubocage!
Léon havia finalmente jurado que não voltaria a encontrar-se com Emma e reprovava-se a si mesmo por não ter mantido a palavra, considerando tudo o que aquela mulher poderia ainda trazer-lhe de embaraços e recriminações, sem falar nas piadas dos colegas, que fervilhavam de manhã em volta do fogão. Além disso, estava para ser promovido a primeiro-escriturário: era o momento de se portar com seriedade. Por isso se dispunha a renunciar à flauta encantada, aos sentimentos exaltados, à imaginação, visto que todo o burguês, nos ardores da sua juventude, nem que tenha sido apenas por um dia, um minuto, pensou ser capaz de paixões imensas, de elevadas proezas. O mais medíocre libertino sonhou com amantes; todo o notário encerra em si os destroços dum poeta.
Enfadava-se agora sempre que Emma, subitamente, se punha a soluçar agarrada a ele; e o coração, como as pessoas que apenas suportam uma certa dose de música, deixava-se adormecer com indiferença com o tumulto de um amor cujas delicadezas já não conseguia distinguir.
Conhecia-se já demasiado para ter aquelas surpresas da posse que lhe centuplicam o gozo. Emma estava tão enfastiada de Léon como este cansado dela. Emma encontrava agora no adultério toda a insipidez do casamento.
Mas como poderia libertar-se? Por mais que se sentisse humilhada pela baixeza de tal felicidade, mantinha-se-lhe presa pelo hábito ou pela corrupção, e cada dia mais se agarrava ainda, exaurindo toda a felicidade à força de a querer demasiado grande.