Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 31: VIII

Página 342

-Tenho muita pena de ti! - disse Emma. - Sim, uma pena enorme!... E, detendo o olhar numa carabina marchetada que brilhava na panóplia: - Mas, quando se é tão pobre, não se guarnece de prata a coronha da espingarda! Não se compra um relógio com incrustações de madrepérola! - continuava Emma, indicando o relógio de Boule. - Nem assobios de prata dourada para os chicotes - e tocava-lhes -, nem berloques para o relógio de bolso! Oh! Não lhe falta nada, nem mesmo uma licoreira no quarto!, porque tratas-te bem, vives bem, tens um castelo, quintas, matas; fazes caçadas a cavalo, viajas por Paris... Eh!, ainda que não fosse se não com isto - exclamava ela, apanhando em cima da chaminé os seus botões de punho -, com a mínima destas futilidades, poder-se-ia fazer dinheiro!. .. Oh! Mas não os quero! Guarda-os!

E atirou para longe os dois botões cuja corrente de ouro se partiu ao bater contra a parede.

- Mas eu teria dado, teria vendido tudo, teria ido trabalhar com as minhas mãos, teria mendigado pelas ruas, por um sorriso, por um olhar, para te ouvir dizer: «Obrigado!» E tu deixas-te ficar aí comodamente na tua poltrona, como se ainda não me tivesses feito sofrer bastante? Se não fosses tu, bem o sabes, eu poderia ter vivido feliz! Qual era o motivo que te obrigava? Alguma aposta? No entanto dizias que me arriavas... E ainda há momentos... Ah! Mais valia teres-me escorraçado! Ainda tenho as mãos quentes dos teus beijos, e aqui está o lugar, no tapete, onde me juravas uma eternidade de amor. Fizeste-me acreditar nisso: durante dois anos, arrastaste-me no sonho mais magnífico e delicioso!... Hem! Lembras-te dos nossos projectos de viagem? Ah!, a carta, a tua carta! Despedaçou-me o coração!... E agora, quando me volto para ele, para ele, que é rico, feliz, livre!, para lhe implorar uma ajuda que qualquer pessoa daria, suplicando e trazendo-lhe toda a minha ternura, repele-me, porque lhe custaria três mil francos!

- Não os tenho! - respondeu Rodolphe com a perfeita calma de que se revestem, como de um escudo, as iras resignadas.

<< Página Anterior

pág. 342 (Capítulo 31)

Página Seguinte >>

Capa do livro Madame Bovary
Páginas: 382
Página atual: 342

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
PRIMEIRA PARTE – I 1
II 12
III 22
IV 29
V 36
VI 40
VII 46
VIII 54
IX 66
SEGUNDA PARTE – I 79
II 90
III 97
IV 112
VI 126
VII 140
VIII 150
IX 175
X 186
XI 196
XII 209
XIII 224
XIV 234
XV 246
TERCEIRA PARTE – I 255
II 271
III 282
IV 285
V 289
VI 307
VII 325
VIII 339
IX 357
X 366
XI 373