Foi por essa época que a viúva Dupuis teve a honra de lhe participar o «casamento do Sr. Léon Dupuis, seu filho, notário em Yvetot, com D. Leocádia Leboeuf de Bondeville». Charles, entre as felicitações que lhe enviou, escreveu a seguinte frase:
«Como a minha pobre mulher se teria sentido felizl»
Um dia em que, errando pela casa sem qualquer objectivo, subira ao sótão, sentiu, debaixo do chinelo, uma bola de papel amarrotado. Desenrolou-a e leu: «Coragem, Emma! Tenha coragem! Não quero fazer a infelicidade da sua existência.» Era a carta de Rodolphe, caída no chão no meio de umas caixas, onde ficara até àquele momento, em que o vento da fresta a arrastara na direcção da porta. Charles ficou completamente imóvel e boquiaberto naquele mesmo local onde antes, ainda mais pálida do que ele, Emma, desesperada, havia querido morrer. Descobriu por fim um pequeno R ao fundo da segunda página. O que era aquilo? Lembrou-se das assiduidades de Rodolphe, do seu súbito desaparecimento e do ar constrangido que adoptara quando, depois disso, a tinha encontrado duas ou três vezes. Mas foi iludido pelo tom respeitoso da carta.
«Amaram-se talvez platonicamente», pensou ele.
Além disso, Charles não era pessoa para ir até ao fundo das coisas: recuava diante das dificuldades, e o seu incerto ciúme perdeu-se na imensidão da sua dor.
Deve ter sido adorada, pensava ainda. Todos os homens, com certeza, a teriam cobiçado. Pareceu-lhe por isso mais bela; e concebeu um desejo permanente, furioso, que inflamava o seu desespero e não tinha limites, por ser agora irrealizável.
Para lhe agradar, como se ela ainda vivesse, adoptou-lhe as predilecções, as ideias; comprou botas de verniz, começou a usar gravatas brancas, punha cosméticos no bigode, assinava letras à ordem, como ela.