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Capítulo 10: SEGUNDA PARTE – I

Página 88
O meu Deus éo mesmo de Sócrates, de Franklin, de Voltaire e de Béranger! Eu sou pela profissão de fé do vigário saboiano e pelos princípios imortais de 89! Por isso não admito que Deus seja assim um sujeito que ande a passear no seu jardim de bengala na mão, instale os seus amigos no ventre das baleias, morra soltando um grito e ressuscite ao cabo de três dias: coisas absurdas por si mesmas e completamente opostas, além disso, a todas as leis da física; diga-se de passagem que tudo isso prova que os padres estagnaram sempre numa torpe ignorância, onde se esforçam por atolar também as populações.

Calou-se, procurando com o olhar um público à sua volta, pois, na sua efervescência, o farmacêutico, por um instante, julgou estar em pleno conselho municipal. Mas a dona da estalagem já não o ouvia; prestava atenção a um rumor ao longe. Distinguiu-se o ruído duma carruagem, à mistura com o chocalhar de ferraduras soltas batendo a terra, e a Andorinha parou finalmente diante da porta.

Era uma caixa amarela suspensa por duas grandes rodas que, subindo até à altura do toldo, impediam os viajantes de ver bem a estrada e ainda lhes sujavam os ombros. Os pequenos vidros dos seus estreitos postigos tremiam nos caixilhos quando o veículo ia fechado e conservavam manchas de lama, aqui e ali, no meio da sua velha camada de pó, que nem a chuva das trovoadas conseguia lavar completamente. Era tirada por três cavalos, dos quais o primeiro atrelado em sota, e, nas descidas, tocava no chão, dando solavancos.

Apareceram então na praça alguns moradores de Yonville; falavam todos ao mesmo tempo, pedindo explicações, notícias e encomendas; Hivert não sabia a qual responder. Era ele quem fazia na cidade os recados do lugar. Ia às lojas, trazia rolos de sola para o sapateiro, ferragem para o ferrador, uma barrica de arenques para a patroa, toucas da modista e postiços do cabeleireiro; e, ao longo da estrada, no regresso, distribuía os seus pacotes, que ia atirando por cima da vedação dos pátios, pondo-se de pé sobre o assento e gritando a plenos pulmões, enquanto os cavalos continuavam a andar sozinhos.

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Capa do livro Madame Bovary
Páginas: 382
Página atual: 88

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
PRIMEIRA PARTE – I 1
II 12
III 22
IV 29
V 36
VI 40
VII 46
VIII 54
IX 66
SEGUNDA PARTE – I 79
II 90
III 97
IV 112
VI 126
VII 140
VIII 150
IX 175
X 186
XI 196
XII 209
XIII 224
XIV 234
XV 246
TERCEIRA PARTE – I 255
II 271
III 282
IV 285
V 289
VI 307
VII 325
VIII 339
IX 357
X 366
XI 373