As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 29: XXIX Pág. 210 / 332

- Sr. Daniel! - exclamou Clara, conseguindo, enfim, por maior esforço, vencer o seu enleio, e pondo-se subitamente a pé.

Pedro que lhe escutara a voz aproximou-se dos dois.

A vista do irmão fez cair Daniel em si e alentou-lhe a razão no eterno combate, que sustentava com a fantasia.

Curvou a cabeça e sentiu quase uns assomos de remorsos por o seu estouvado procedimento naquela noite.

- Que tens, Clarinha? - perguntava neste tempo Pedro à sua noiva. - Pareceu-me que te ouvi...

Clara, ainda agitada, apertou o braço de Pedro, como se a procurar protecção, talvez contra si mesma.

- Que tens? dize! - continuou Pedro, já mais inquieto.

- Não é nada.

- Mas tu gritaste.

- Não; é que... a falar verdade, não sei o que sinto.

A inquietação de Pedro aumentava.

- Mas então... Dói-te alguma coisa?

- Não... Olha, sabes? queria-me ver em casa. Se soubera nem tinha vindo.

- Nesse caso vamos acompanhar-te.

Daniel aproximou-se.

- Está doente, Clarinha?

A vista de Daniel exacerbou o estado nervoso, em que se achava Clara.

- Por amor de Deus! deixem-me - exclamou ela com um grito, cheio de impaciência, quase febril.

Este grito chamou as atenções.

Todos se aproximaram dela.

- Que é?

- Que foi?

- Deu-lhe alguma coisa?

- Está mal?

- Ó Clara, então isso que é?

- Que tens, filha?

E cada qual perguntava a seu modo, e cada qual a seu modo respondia e dava um conselho e fazia uma conjectura.

Amigas obsequiosas preparavam-se para desapertá-la. Houve algumas que a quiseram obrigar a beber água fria; outras esforçavam- se por lhe untar as fontes com vinagre.

- Aquilo são bichas - dizia uma velha, muito entendida em diagnósticos.

- É flato - sustentava, em divergência com esta, outra colega.





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