- Sr. Daniel! - exclamou Clara, conseguindo, enfim, por maior esforço, vencer o seu enleio, e pondo-se subitamente a pé.
Pedro que lhe escutara a voz aproximou-se dos dois.
A vista do irmão fez cair Daniel em si e alentou-lhe a razão no eterno combate, que sustentava com a fantasia.
Curvou a cabeça e sentiu quase uns assomos de remorsos por o seu estouvado procedimento naquela noite.
- Que tens, Clarinha? - perguntava neste tempo Pedro à sua noiva. - Pareceu-me que te ouvi...
Clara, ainda agitada, apertou o braço de Pedro, como se a procurar protecção, talvez contra si mesma.
- Que tens? dize! - continuou Pedro, já mais inquieto.
- Não é nada.
- Mas tu gritaste.
- Não; é que... a falar verdade, não sei o que sinto.
A inquietação de Pedro aumentava.
- Mas então... Dói-te alguma coisa?
- Não... Olha, sabes? queria-me ver em casa. Se soubera nem tinha vindo.
- Nesse caso vamos acompanhar-te.
Daniel aproximou-se.
- Está doente, Clarinha?
A vista de Daniel exacerbou o estado nervoso, em que se achava Clara.
- Por amor de Deus! deixem-me - exclamou ela com um grito, cheio de impaciência, quase febril.
Este grito chamou as atenções.
Todos se aproximaram dela.
- Que é?
- Que foi?
- Deu-lhe alguma coisa?
- Está mal?
- Ó Clara, então isso que é?
- Que tens, filha?
E cada qual perguntava a seu modo, e cada qual a seu modo respondia e dava um conselho e fazia uma conjectura.
Amigas obsequiosas preparavam-se para desapertá-la. Houve algumas que a quiseram obrigar a beber água fria; outras esforçavam- se por lhe untar as fontes com vinagre.
- Aquilo são bichas - dizia uma velha, muito entendida em diagnósticos.
- É flato - sustentava, em divergência com esta, outra colega.