Vejam lá se o padre não fez bem em adiar o sermão para ocasião mais oportuna.
Porém, Margarida? Essa é que não se ria. Certo instinto de delicadeza, inato em quase todas as mulheres, não sei que vaga presciência de infortúnio, que algumas, de criança, possuem, parecia- lhe estar dizendo que tudo aquilo, sem saber porquê, lhe poderia vir a ser funesto.
E enquanto que Daniel ria, ela, coitada, não se pôde conter, e começou a chorar.
- Que tens tu, Guida? Isso o que é? - perguntou-lhe Daniel, já sério e meio sensibilizado. - Porque choras assim?
- Deixe-me. Não sei bem... mas sinto uma tristeza... e tamanha...
tamanha!... Vamos. É tarde, vou juntar o gado.
- E eu ajudo-te.
- Não. Vá para casa e corra bem, antes que o Sr. Reitor chegue lá primeiro.
- Pois ele irá?
- Ande... corra.
Foi então que Daniel reconheceu que Margarida podia ter alguma razão em não levar o caso a rir, e que não devia ser para ele uma coisa de todo insignificante a aparição do padre ali. Por isso disse adeus à sua companheira, e deitou a correr para casa.