Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 4: IV

Página 23

Como esses bonecos que fazem as delícias dos pequenos feirantes do S. Miguel e do S. Lázaro, no Porto, e, que, ao abrir-se a caixa, que os contém, são repentinamente expelidos por uma mola interior, o pároco, ao toque mágico do agigantado quadrúpede, ergueu-se de súbito sobre os calcanhares, e meio sufocado pelo susto, e com as faces enfiadas, bradou para Daniel:

- Chama este cão, rapaz endemoninhado! Ele mata-me!

Daniel é que lhe não podia valer, tão embasbacado ficou com a inesperada aparição do mestre. A mulher de Loth por certo não se conservou tão imóvel, depois do fatal momento em que cedeu à sua irresistível curiosidade.

A pequena Margarida é que salvou a situação - como me parece que se costuma dizer em política. - Armou-se da maior severidade que lhe era possível, e com inflexão de voz imperiosa, pronunciou um - «aqui, Gigante!» - que foi prontamente obedecido.

O reitor estava salvo, mas ainda não senhor seu, e deveras chufado com as circunstâncias ridículas que acompanharam a sua descoberta.

Ora, como sempre acontece, estas circunstâncias inabilitavam- no para assumir o carácter severo, grave e pedagógico, necessário a quem se propõe a dar uma repreensão, a fazer uma prática de moral.

Com muito bom senso renunciou, pois, o reitor a este projecto, e, sem dar palavra, virou costas e abandonou o lugar desta aventura, interiormente quase tão pouco satisfeito consigo como com o seu discípulo.

Daniel, passados alguns momentos mais de silencioso pasmo, desatou a rir, a rir, a rir, desse expansivo e contagioso rir de criança, que não tem outro igual. Esqueceu o que para ele havia de estranho e sério em tudo aquilo, e as consequências que poderia ter, para só se lembrar da carantonha que fazia o reitor, a gritar que lhe acudissem, do susto que apanhara, do aspecto sorumbático que levava ao partir, e por isso tudo ria a bandeiras despregadas.

<< Página Anterior

pág. 23 (Capítulo 4)

Página Seguinte >>

Capa do livro As Pupilas do Senhor Reitor
Páginas: 332
Página atual: 23

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 6
III 12
IV 16
V 25
VI 31
VII 35
VIII 43
IX 52
X 59
XI 65
XII 74
XIII 81
XIV 88
XV 95
XVI 102
XVII 109
XVIII 119
XIX 127
XX 134
XXI 139
XXII 147
XXIII 153
XXIV 161
XXV 170
XXVI 179
XXVII 187
XXVIII 192
XXIX 198
XXX 212
XXXI 219
XXXII 225
XXXIII 232
XXXIV 240
XXXV 247
XXXVI 256
XXXVII 261
XXXVIII 271
XXXIX 280
XL 296
XLI 306
XLII 316