Assim aconteceu com José das Dornas: o que, ao princípio, lhe avultara como calamidade, acabou por se transformar em uma coisa naturalíssima e engraçada até; o que lhe parecera desmoronamento de um belo edifício em construção, convencendo-o em pouco tempo que não passava de uma reforma preparatória para futuro melhor, e de carrancudo e pesaroso que ficara ao princípio, acabou por se tornar prazenteiro e quase risonho.
- O rapaz sai-me da pele do diabo! Com que, já tinha também a sua conversada! Havia mister! Ah! ah! ah! E o reitor atrapalhado!
Ah! ah! ah! Agora é que eu lhe acho graça! E como ele soube dizer que não havia de ser padre, porque queria casar! Ora o rapazinho!
Esperto é ele! olá! Mas como diabo o ouviu o reitor? A falar a verdade...
o pequeno tem razão. Eu, que tão bem me dei com aquela santa, que está no céu, como havia de obrigar um filho meu a não gozar de uma felicidade como a minha? Deixar o rapaz... Quer casar?! Faz ele muito bem. Deus lhe depare uma boa cachopa, que seja mulher de casa... Mas quem seria a tal? Isso é que o padre não diz. Pois hei-de sabê-lo. Sempre mandarei o pequeno para o Porto...
E que dúvidas? Nas terras grandes é que se fazem os homens... Há- -de ser cirurgião, se quiser. O reitor lá nisso diz bem. O João Semana está acabado... Padres não faltam... e, com a esperteza do Daniel, era uma pena não fazer dele outra coisa... Ai o rapazinho que é os meus pecados! Ah! ah! ah! Sume-te! Já tem o sangue na guelra. Madruga!
E, com este monólogo e as mais fagueiras disposições de ânimo, chegou José das Dornas a casa, e jantou com apetite. À mesa lançava, às furtadelas, maliciosos olhares para o filho mais novo, o qual, sentindo-se sob iminente pronúncia, não levantava os seus.