- É assim, Sr. Reitor, eu sei que os há por aí mais infelizes do que eu, mas...
- Mas então, quem tem saúde e a quem Deus não falta com o pão nosso quotidiano, só deve erguer as mãos ao céu, para lhe tecer louvores. Mareia tu a tua vida, que teus filhos não são nenhuns aleijados para precisarem de pedir esmola.
- Graças a Deus que não são, Sr. Reitor. O Pedro, sobretudo, não me dá cuidados. O Senhor fê-lo robusto e fero; é um homem para o trabalho; e quem pode trabalhar não precisa de outra herança. Pelo trabalho - e com a ajuda de Deus - fiz eu esta minha casa, que não é das piores, vamos; ele, com menos custo, a pode agora aumentar, se quiser. Mas o Daniel já não é assim.
Aquilo é outra mãe - o Senhor a chame lá. Um dia de ceifa é bastante para mo matar. É a sorte dele que me dá cuidado.
- Então é só isso? Ora valha-te Deus! É verdade. O pequeno é fraquito e decerto não pode com o trabalho do campo, mas... para que queres tu o dinheiro, José? Acaso não terás alguns centos de mil réis ao canto da caixa para pôr o rapaz em estudos? Não podes fazer dele um lavrador? Fá-lo padre, letrado, ou médico, que não ficarás pobre com a despesa.
José das Dornas,