As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 1: I Pág. 3 / 332

Mas tu! Que mais queres? Tens bons haveres para deixares a teus filhos; mas, quando os não tivesses, sempre eram dois rapazes; e deixa lá, José; um homem é outra coisa que não é uma mulher; onde quer se arranja; toda a terra é sua; em toda a parte encontra que fazer e qualquer trabalho lhe está bem. Agora os pobres, que vejo por aí com um rancho de raparigas, coitadinhas, que ficam mesmo ao desamparo de todo, se a sorte lhes roubar o pai... esses sim, é que não sei como podem ter um momento de alegria; e contudo encontra-los nas festas, que é um louvar a Deus.

- É assim, Sr. Reitor, eu sei que os há por aí mais infelizes do que eu, mas...

- Mas então, quem tem saúde e a quem Deus não falta com o pão nosso quotidiano, só deve erguer as mãos ao céu, para lhe tecer louvores. Mareia tu a tua vida, que teus filhos não são nenhuns aleijados para precisarem de pedir esmola.

- Graças a Deus que não são, Sr. Reitor. O Pedro, sobretudo, não me dá cuidados. O Senhor fê-lo robusto e fero; é um homem para o trabalho; e quem pode trabalhar não precisa de outra herança. Pelo trabalho - e com a ajuda de Deus - fiz eu esta minha casa, que não é das piores, vamos; ele, com menos custo, a pode agora aumentar, se quiser. Mas o Daniel já não é assim.

Aquilo é outra mãe - o Senhor a chame lá. Um dia de ceifa é bastante para mo matar. É a sorte dele que me dá cuidado.

- Então é só isso? Ora valha-te Deus! É verdade. O pequeno é fraquito e decerto não pode com o trabalho do campo, mas... para que queres tu o dinheiro, José? Acaso não terás alguns centos de mil réis ao canto da caixa para pôr o rapaz em estudos? Não podes fazer dele um lavrador? Fá-lo padre, letrado, ou médico, que não ficarás pobre com a despesa.

José das Dornas,





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