ao ouvir assim formulado o conselho do reitor, sorriu com a visível satisfação que sempre experimentamos vendo que um dos nossos pensamentos favoritos merece a aprovação de alguém, antes de lho revelarmos.
- Nisso mesmo pensava eu. Já me lembrou mandá-lo estudar, mas tinha cá certos escrúpulos.
- Escrúpulos! Valha-te não sei que diga! Pois ainda és desses tempos? Que escrúpulos podes ter em mandar ensinar teus filhos?
Fazes-me lembrar um tio meu, que nunca permitiu que as filhas aprendessem a ler; como se pela leitura se perdesse mais gente do que pela ignorância.
- Não é isso, Sr. Padre António, não é isso o que eu quero dizer; mas custa-me dar a meus filhos uma educação desigual. Vê vossa senhoria? São irmãos e, mais tarde, o que tomar melhor carreira e se elevar pelo estudo há-de desprezar o que seguir a vida do pai, a ponto de que os filhos de um e de outro quase nem se conhecerão: é o que mais vezes se vê. Não é uma injustiça que faço a Pedro a educação que der a Daniel?
- Homem de Deus, não há desigualdade verdadeira, senão a que separa o homem honrado do criminoso e mau. Essa sim, que é estabelecida por Deus, que, na hora solene, extremará os eleitos dos réprobos. Educa bem os teus filhos em qualquer carreira em que os encaminhes; educa-os segundo os princípios da virtude e da honra, e não os distanciarás, acredita: porque, cumprindo cada um com o seu dever, serão ambos dignos um do outro e prontos apertarão as mãos, onde quer que se encontrem. E no sentido mundano, julgas tu que fazes mais feliz Daniel, por o elevares a uma classe social acima da tua? Ai, homem, como vives enganado! O quinhão de dores e de provações foi indistintamente repartido por todas as classes, sem privilégio de nenhuma. Há infortúnios e misérias que causam o tormento dos grandes e poderosos e que os pobres e humildes nem experimentam, nem imaginam sequer.