Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 8: VIII

Página 46

Nesta noite pensou também em Daniel; pensando nele, e naqueles breves momentos que vivera, esquecida do infortúnio, na solidão dos montes, chegou a iludir-se, a imaginar-se transportada lá; e esqueceu o frio e o medonho da noite - que um e outro lhos fizera desvanecer a vara mágica da fantasia; - e insensivelmente a mão que fiava, descaíram-lhe os braços, vergou a cabeça melancólica, e o pensamento perdeu-se em longa e abstracta contemplação, que, sem transição apreciável, terminou num sono profundo.

Encontraram-se e confundiram-se os últimos devaneios da vigília, com os primeiros sonhos em que flutuavam ridentes as mesmas imagens, fantasiadas ou recordadas naquela.

Clara não pudera, porém, adormecer com a ideia do sacrifício, imposto à irmã. Do leito, onde se deitara com a mãe, ouvia o som do soluçar de Margarida, e isto era um martírio para ela. A boa rapariga pedia a Deus que olhasse por a pobre desvalida da irmã, que já não tinha nenhum amparo, e, rezando assim, chorava ainda mais do que ela. Cedo, porém, um alto e pausado respirar deu-lhe a certeza de que a mãe havia já caído no sono.

Clara não hesitou mais.

Com todas as precauções possíveis, deixou-se escorregar de mansinho entre o leito e a parede, colocou sobre os ombros uma capa de baeta que encontrou à mão, e, com muita cautela, passou- -se para a cozinha, onde Margarida já tinha adormecido. Clara não a acordou. Depois de a agasalhar com uma manta do leito, agachou- se ao lado dela e tirando-lhe subtilmente a roca da cinta, pôs- -se, por sua vez, a trabalhar.

Eram duas horas da noite e a tarefa estava terminada. Margarida dormia... sonhava ainda.

Neste instante, um som, que julgou partir da alcova, fez recear a Clara que a mãe tivesse acordado; por isso mal teve tempo de correr a meter-se no leito, procurando não excitar a desconfiança materna, e não pôde chamar a irmã para a mandar deitar.

<< Página Anterior

pág. 46 (Capítulo 8)

Página Seguinte >>

Capa do livro As Pupilas do Senhor Reitor
Páginas: 332
Página atual: 46

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 6
III 12
IV 16
V 25
VI 31
VII 35
VIII 43
IX 52
X 59
XI 65
XII 74
XIII 81
XIV 88
XV 95
XVI 102
XVII 109
XVIII 119
XIX 127
XX 134
XXI 139
XXII 147
XXIII 153
XXIV 161
XXV 170
XXVI 179
XXVII 187
XXVIII 192
XXIX 198
XXX 212
XXXI 219
XXXII 225
XXXIII 232
XXXIV 240
XXXV 247
XXXVI 256
XXXVII 261
XXXVIII 271
XXXIX 280
XL 296
XLI 306
XLII 316