Nesse mesmo dia, os colonos dirigiram-se ao curral, munidos de tudo o que era preciso, e, ainda a semana não se escoara, já uma cabana estava pronta e mobilada com o mínimo necessário. O desconhecido não os acompanhava. Preferira compensá-los do esforço que por ele faziam, empenhando-se ainda mais nos trabalhos agrícolas, de modo que, quando as obras no curral acabaram, as terras do planalto estavam prontas para as sementeiras! Estava-se a 20 de Dezembro. Nessa noite - a primeira que o desconhecido passaria no curral - os colonos conversavam na sala grande, quando bateram levemente na porta. O desconhecido entrou, pálido e emocionado.
- Senhores, antes que me vá embora, quero que ouçam a minha história... É assim: "Num dia de Dezembro de 1854, um iate a vapor pertencente a um fidalgo escocês fundeou na costa oriental da Austrália, perto do cabo Howe, a quase 37 graus de latitude sul. O iate tinha a bordo, além do proprietário, Lorde Glenarvan, a mulher deste, um major do exército inglês, um geógrafo francês, um rapaz e uma rapariga. Os dois jovens eram os filhos do capitão Grant, cujo navio - o Britannia - se afundara há um ano atrás junto do litoral australiano, segundo constava.
"A tripulação do Duncan - era este o nome do iate - era composta pelo comandante, capitão John Mangles, e uma equipagem de quinze homens. O que fazia um barco de recreio europeu naquelas paragens remotas? Pois bem: acontece que, seis meses antes, o pessoal do Duncan tinha recolhido no mar da Irlanda uma garrafa com uma mensagem escrita em inglês, francês e alemão, na qual se dava conhecimento da existência de três sobreviventes do naufrágio do Britannia, sendo um deles o próprio capitão Grant! Os sobreviventes, segundo a mensagem, estavam numa terra, cujo nome não era indicado, situada a 37 graus 11 minutos de latitude sul, mas cuja longitude, infelizmente, fora apagada pela água do mar.