A luta foi breve. Segurando o jaguar pela garganta com a mão esquerda, poderosa como uma garra, desferiu com a direita um golpe mortal no coração do felino, que caiu morto. Quando os colonos chegaram, esbaforidos e assustados, o homem fez menção de fugir, mas Harbert segurou-o.
- Meu amigo - pronunciou Cyrus Smith, com a voz embargada -, acabamos de contrair uma dívida de gratidão para consigo! Salvou o nosso rapaz, arriscando a sua própria vida.
- A minha vida... - murmurou o desconhecido. - A minha vida não vale nada!
Harbert pretendeu apertar a mão do seu salvador, mas este evitou o gesto cruzando os braços sobre o peito poderoso.
Depois, perguntou bruscamente:
- Quem são vocês? O que estão aqui a fazer nesta ilha? O que é que pretendem ser para mim?
Era a história dos colonos que, pela primeira vez, ele queria conhecer... Quem sabe se a seguir não contaria a sua? Cyrus Smith narrou-lhe toda a odisseia vivida desde a fuga de Richmond; o homem escutava atentamente. Por fim, o engenheiro rematou:
- Agora que nos conhece, continua a recusar-se a apertar a nossa mão?
- Vocês são homens bons, são gente honesta - respondeu.
- Eu não posso tocar numa mão honrada, eu não posso, porque eu...
O desconhecido passou a mão pelos olhos molhados de lágrimas; todo ele tremia. Por fim, voltou a falar:
- Senhor Cyrus, apesar de não ser merecedor, queria pedir-lhe um favor! Os animais do curral precisam de ser tratados todos os dias... Deixe-me ir viver para lá.
O engenheiro fitou o infeliz com profunda comiseração:
- No curral só há estábulos. Não há condições para uma pessoa viver...
- Chega para mim.
- Está bem! - condescendeu Cyrus Smith. - Mas nós arranjaremos as coisas para que fique devidamente instalado.