Marinheiro experimentado, não teve dificuldade em perceber que era um barco de trezentas a quatrocentas toneladas, esguio e sabiamente mastreado, enfim, um autêntico corredor dos mares. Mais difícil era averiguar a sua nacionalidade, dado que a noite caía e o pavilhão, com o abrandamento da brisa marítima, se enrolara nos cabos.
- Americano não é, nem inglês, que aí se via facilmente o vermelho... - ia dizendo Pencroff. - Também não é francês, nem alemão... Tão-pouco é a bandeira branca da Rússia ou a amarela de Espanha. Dir-se-ia que é de uma cor uniforme... Vejamos: nestes mares, o que seria mais natural encontrar? O pavilhão do Chile? Mas esse é tricolor... O brasileiro? É verde. Só se...
A frase ficou em meio. Uma aragem repentina fizera drapejar a bandeira desconhecida e o marinheiro anunciou em voz rouca:
- O pavilhão negro!
- Meus amigos - exclamou, emocionado, o engenheiro -, se esses miseráveis quiserem conquistar a nossa ilha, nós defendê-la-emos, não é verdade?
- Com as nossas próprias vidas, se for preciso! - respondeu Gedeão Spilett.
A noite caíra, uma noite de breu, noite de lua nova, envolvendo em escuridão cerrada a ilha e o mar. Do navio, ainda sem luzes, nada se descortinava e nem sequer era possível saber- se a localização exacta.
- Quem sabe se o maldito barco não deu meia volta... - sugeriu Pencroff.
Como que em resposta à observação do marinheiro, um clarão vivo relampejou ao largo e um tiro de canhão atroou os ares, cortando violentamente o silêncio da noite. O brigue estava ali, a menos de duas milhas da costa! Pouco depois, os colonos ouviram distintamente o guinchar característico das correntes a descer pelos escovéns. O navio acabava de lançar ferro à vista da Casa de