.. e a partir de agora? Perdidos num penhasco no meio do oceano, sujeitos à fome, à sede e ao frio, só um desfecho dramático era de prever.
Cyrus Smith mantinha-se calmo; Gedeão Spilett, inquieto e angustiado, fixava teimosamente o horizonte. Pencroff, tomado de uma raiva surda, não parava quieto... Harbert não tirava os olhos do engenheiro, como que esperando alguma ideia salvadora.
Quanto a Nab e Ayrton pareciam resignados com a sua sorte, o primeiro sempre agarrado ao cofre que nem no meio da hecatombe largara.
- Ah! maldita desgraça, com mil diabos! - lamentava-se o marinheiro. - Se ao menos tivéssemos uma casca de noz para chegar à ilha Tabor! Mas nada, nada... Não temos nada!
- O capitão Nemo fez bem em morrer... - murmurou Nab.
Dois dias depois, quis a fortuna que chovesse abundantemente e os colonos puderam saciar a sede que os atormentava; também Top bebeu avidamente de uma das poças formadas nas reentrâncias da rocha. Porém, encharcados e cheios de frio e de fome, por quanto mais tempo aguentariam? Mais cinco dias se passaram. O céu voltara a estar limpo e a borrasca passara. Os homens do rochedo, porém, já nem forças tinham para se levantar e jaziam numa prostração que se agravava de hora a hora. Harbert e Nab começaram a dar sinais de delírio... Enfraquecidos até ao limite, os colonos estavam agora nas mãos de Deus! Na manhã do oitavo dia, Top latiu debilmente e empurrou o corpo do dono com o focinho. Contudo, Cyrus Smith, se é que se deu conta, não foi capaz da menor reacção... O cão latiu de novo e Ayrton ouviu-o ao longe, muito ao longe... Com um esforço supremo, levantou a cabeça e olhou para o mar... Mas o que era aquilo, aquela mancha confusa no horizonte? Um navio? O infeliz não delirava.