A noite chegou e passou-se em mil e uma inquietações, que poderiam ser mortais, não fossem os passageiros pessoas tão corajosas.
Outro dia nasceu, o dia 24 de Março, e com a aurora o furacão deu mostras de acalmar. As nuvens subiram e, algumas horas depois, a tromba adelgaçou e acabou por rebentar. Pelas onze horas, a atmosfera limpou e o furacão, extinto com o rebentamento da tromba, parecia ter-se transformado em ondas eléctricas, como sucede às vezes com os tufões do oceano Índico.
Foi então que o balão voltou a descer lentamente até às camadas inferiores da atmosfera, parecendo mesmo que se esvaziava e que passava da forma esférica à ovóide! Ao meio-dia, o balão planava apenas a uns seiscentos metros acima do nível das águas. Os passageiros trataram de deitar ao mar as últimas coisas que ainda podiam fazer peso na barquinha, alguns víveres e até pequenos utensílios que tinham nos bolsos. Depois, um deles içou-se às redes que os prendiam ao balão e tentou reforçar as cordas. Era evidente que não podiam fazer mais nada para impedir a descida... O balão perdia gás. Estavam perdidos! Com efeito, não sobrevoavam continente ou ilha onde poisar, não havia uma única superfície sólida onde prender as âncoras do balão. Apenas o imenso oceano e as vagas arremessadas umas contra as outras com uma violência incomparável! Tornava-se imperioso suster a descida do balão antes que ele fosse engolido pelas ondas. Todavia, apesar dos esforços dos passageiros, a barquinha descia sempre, ao mesmo tempo que era arrastada pelo vento a uma enorme velocidade, de nordeste para sudoeste.
Às duas horas da tarde, o aeróstato estava apenas a cento e poucos metros acima do mar. Por essa hora, a voz de um homem, cujo coração não conhecia o medo, fez-se ouvir:
- Deitámos tudo fora?
- Ainda temos dez mil francos em ouro.