- E não te enganas - murmurou D. Deolinda, aproveitando a ocasião em que a baronesa, levantando-se, se afastara um pouco para ir buscar um outro livro a uma pequena estante.
- Mas com que assuntos estão agora a entreter-se! - exclamou a baronesa, voltando a sentar-se. - Não poderão falar em outras coisas?... Se assim continuam, agastam-se, e o resultado...
- O resultado é ficarmos sempre amigos - respondeu Fernando. - Não é assim, Sra. D. Deolinda?
- Decerto, Sr. Fernando.
- É verdade - exclamou a baronesa - deixe-me ir prevenindo-o: no dia em que fizer o seu acto grande espero que virá jantar connosco, juntamente com os seus pais. Falo-lhe com tempo para que não se comprometa com outras pessoas. Aceita o convite, não é verdade?
- Com o maior prazer, minha senhora.
- E a mamã não o convida também para o nosso passeio de domingo? - interrogou D. Deolinda.
- Tens razão, ia-me já isso esquecendo. No domingo tencionamos ir dar um passeio a Leça. Quer dar-nos o prazer da sua companhia?
- V. Exas. confundem-me com tantos obséquios; não se dispensava mais deferência a um parente.
- Parente?... - retorquiu a baronesa, lançando um olhar para sua filha. - E não podia ainda sê-lo? Não é já o senhor o nosso mais íntimo amigo?
Houve em seguida a estas palavras um momento de silêncio.
Afinal, a baronesa, sempre com aquele bondoso sorriso a pairar-lhe nos lábios, levantou-se, exclamando:
- O Sr. Fernando dá-me licença que me retire por alguns momentos?
Necessito dar algumas ordens aos criados, mas volto já. Agora o que lhes peço é que não se entretenham em conversas que os possam mortificar; não gosto de os ver indispostos. Até já.
A baronesa saiu, e Fernando, aproximando mais a cadeira da de Deolinda, exclamou:
- Que pensas daquelas palavras da tua mãe? Pelo que vejo, o segredo dos nossos amores já foi descoberto.