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CAPÍTULO 14
Chegou finalmente o dia em que Fernando devia fazer o seu acto grande, a última prova de aproveitamento no curso que, como a baronesa tinha designado, o jovem convidara sua família para vir ser testemunha presencial da sua formatura, mas ao convite acedera só seu pai, que na véspera desse dia se apresentara em casa de Fernando, risonho e alegre, como alegres se podem mostrar os pais que veem seus filhos chegar ao termo de uma carreira que lhes promete uma posição distinta e honrosa.
O jovem nesse mesmo dia foi apresentar seu pai à baronesa e a sua filha, que o receberam com a afabilidade e sem-cerimónia com que sempre se acolhe um amigo velho e futuro parente, e desde logo o convidaram, tanto a ele como a Fernando, para jantar na sua companhia depois do exame.
No dia seguinte, o pai de Fernando, convenientemente vestido para assistir a uma cerimónia tão importante, envergando a sua antiquíssima casaca, que só aparecia nos actos solenes, tendo na cabeça um enorme chapéu de seda, já arruçado pelo pó de muitos anos, e apoiando-se num bengalório de castão de prata, o que tudo lhe dava uma feição um tanto grotesca, apeava, meia hora antes de começar o acto, conjuntamente com a baronesa e a sua filha, de um lindo trem que parara próximo das escadas que davam ingresso para o edifício da escola.
À aparição do pai de Fernando, alguns estudantes que conversavam no pátio não puderam deixar de se rir do aspeto grave e semicómico do velho, e entre si divertiam-se com alguns epítetos dirigidos ao traje do recém-chegado, o que lhes aumentava a hilaridade.
Tudo isto, porém, terminou, quando Fernando, avistando seu pai, se encaminhou com toda a seriedade para ele, com a cabeça descoberta, beijando-lhe depois respeitosamente a mão e cumprimentando em seguida as duas senhoras com toda a delicadeza.