.. Como foi isto, minha amiga?
- Não sei, Deolindinha, parece-me que uma pequena constipação... talvez... deu princípio a esta terrível moléstia.
- E há muito tempo que estás doente?
- Há já bastante que eu senti os primeiros sintomas, mas ultimamente tem aumentado espantosamente.
- E porque não atalhaste a moléstia logo no começo?
- Porque não pude, ou não quis!
- Não quiseste, como!?
- Para que nos serve a existência neste mundo?... Para desgostos e mortificações, não é verdade? Quanto mais longa for, mais amargo se tornará o fel da nossa taça; assim, morrendo, termina-se mais depressa com este martírio constante em que muitas vezes vivemos, e deixamos até, talvez, de servir de empecilho à felicidade dos outros.
- Não te percebo, Rosa: falas-me uma linguagem tão estranha!...
- Oh! nem eu desejo que me perceba; o mais que posso dizer-lhe é que a vida só é bela para aqueles que encontram um coração que os ama... como, por exemplo, a Sra. D. Deolinda, não é assim?
- Então já sabes?
- Sei; sei tudo, porque mo contaram: sei que vai desposar o Sr. Fernando.
- E então que te parece o meu noivo?
- Oh, é uma bela alma, que fará a felicidade da sua esposa... Ele ama-a muito?
- Muito, muitíssimo!
- Sim?... Oxalá que nenhuma nuvem negra lhes obscureça o horizonte da sua felicidade.
- Que queres dizer nisso, Rosa?
- Oh! nada; não faça caso das loucuras de uma desgraçada, que descreu completamente de tudo.
- Minha amiga, tu ocultas-me alguma coisa; a maneira como te exprimes denota que na tua alma há muita amargura.
- Não se engana, Deolindinha.
- Então sê franca para comigo: conta-me os teus sofrimentos e desabafa no meu seio os pesares que te mortificam. Amaste talvez algum rapaz que te pagou por fim todos esses afetos com o desprezo e o esquecimento, não é verdade?
- Pior do que isso!.