- Enganas-te...
- Não engano, não, meu amigo, e a prova é essa tua repentina perturbação.
- Eu... perturbado?...
- Sim... mas falemos com franqueza: que há entre ti e ela?
- Nada... absolutamente nada.
- E se eu te disser que faltas à verdade?!
- Como?!
- Eu sei tudo. Fernando!...
- Sabes tudo!... Mas o quê? - exclamou o rapaz, cada vez mais perturbado.
- O que eu sei é que já não se pode efetuar a nossa união.
- E porquê?
- Porque no leito do sofrimento se está finando uma desgraçada vítima, à qual roubaste não só o coração e a beleza, mas até a honra e a vida!
- Deolinda!
- Não negues, não o tentes sequer, porque tudo averiguei!
- Mas...
- Sejamos francos, Fernando: tu tens uma bela alma, és incapaz de cometer uma ação que te desonra, não é assim? Pois, então, corre ao leito dessa desventurada e salva-a de uma morte certa; pede-lhe perdão de a teres feito sofrer tanto e recompensa-a dos desgostos que lhe tens causado pelo oferecimento da tua mão de esposo.
- Enlouqueceste, Deolinda?!
- Não enlouqueci, não, meu amigo. Se tu a visses como eu a vi... Se soubesses quanto amor ela ainda te dedica, apesar do teu completo desprezo...
- Então ela disse-te que efetivamente tínhamos entretido relações?.
- Disse... Mas com que custo eu lhe arranquei esse segredo!... A pobrezinha sabia que estávamos prestes a desposar-nos e não queria de forma alguma revelar-mo; contudo, por mais esforços que empregou, não pôde deixar de trair-se, e por último pediu-me, instou até, que não desse sequer um passo para tu a veres, deixando-a morrer, para mais de perto pedir a Deus pela tua e a minha felicidade... Que bela alma aquela, Fernando, e que sublime e santo amor ela ainda te consagra!
Fernando,