- Mas sempre era bom que eu lhe fosse fazer companhia...
- Não quero, já disse; e até logo.
Proferindo estas palavras, o jovem picou a égua, que desfilou a trote. Ao transpor o portão da quinta alongou a vista por aquela imensidade de trevas e exclamou de si para consigo: "Efetivamente, Francisco tinha razão em dizer que a noite estava feia, e tanto assim que já não vejo um palmo diante de mim. Contudo, não me perderei... Esta frescura faz-me até bem e dispor-me-á a dormir com vontade quando voltar... Não sei também que diabo tinha esta noite! Não era capaz de adormecer, e a cabeça parecia-me um vulcão... Ora vamos lá..."
E Fernando internou-se pelo caminho que o velho lhe indicara.
A noite efetivamente estava bastante desagradável para um passeio daqueles.
Desde o anoitecer, a chuva começara a cair incessantemente; o céu gelava negro e pesado, e nem uma única estrela brilhava no firmamento; o vento, conquanto não fosse muito forte, açoitava ainda assim a ramagem das árvores, produzindo um ruído estranho e misterioso.
Enquanto o jovem caminhava por aquelas veredas, retrocedamos um pouco e vejamos o destino que tomou o velho logo que se despediu de Fernando.
Depois de ter caminhado alguns passos vagarosamente, afastando-se da herdade, parou, e, olhando para trás como para se certificar se alguém o seguia, endireitou-se, deixando ver uma figura de formas vigorosas. Traçou o capote debaixo dos braços, como para melhor poder caminhar, e, dirigindo-se pelo mesmo itinerário que tinha marcado a Fernando, com passos mais apressados, exclamou de si para consigo:
- Desta me saí eu bem: agora vejamos o resto.
Passou a azenha, desceu a encosta, e no meio da bouça parou para responder com um assobio a outro que lhe chegara aos ouvidos.