de tudo, entregavam-se às mais ternas e puras carícias, sem se lembrarem que talvez dentro em pouco uma força imperiosa viria separá-los para sempre e pôr termo àqueles enlevos castos a que descuidadamente se entregavam.
Durou algumas horas aquela cena de estremecimento de coração, de mútuas carícias, e de enlevos santos.
Lembravam-se mutuamente, a cada instante, as horas felizes que tinham passado no começo das suas relações, as saudades que sofreram, as descrenças que os atormentaram, e o desespero e as dores que provaram, entremisturando esse diálogo de afagos sem fim.
Assim se passou aquele dia, sem haver nada mais notável.
Rosa, a instâncias de Fernando, ficara habitando aquele mesmo quarto, e, sentada no leito do seu esposo, velara toda a noite, guardando os poucos momentos em que o doente pudera conciliar o sono.
De madrugada, Fernando pareceu contorcer-se durante algum tempo em dores terríveis, e conquanto fosse grande a sua resignação e valor, não podia encobrir aos olhos da sua esposa os padecimentos que pareciam aumentar a cada instante.
Às 8 horas da manhã o jovem piorara: uma palidez cadavérica ensombrava-lhe as faces, os olhos começavam a perder o brilho habitual e Os lábios arroxeavam-se de momento a momento.
Foi logo chamado o facultativo, e este, mais por obrigação à ciência do que por convencimento de melhorar o estado do doente, receitou alguns calmantes. A sorte de Fernando estava decidida.
Às 10 horas entraram no quarto seus pais, a baronesa e a sua filha.
Fernando, como querendo poupar à sua esposa o testemunho de uma triste cena, voltou-se para ela e, com a voz pouco firme, exclamou:
- Olha, Rosa, já que estão aqui meus pais para velar por mim, vai acolá àquele canteiro que de aqui