Rosa, como esquecida de si própria e como dominada pelas visões de um sonho, abandonava-se cegamente a todas aquelas carícias sem proferir a mínima palavra, sem dar o mais pequeno sinal de enfado, e os seus belos olhos, naquele momento de uma expressão encantadora, fitavam-se com ternura no rosto do mancebo.
Depois de alguns minutos passados naqueles ternos enlevos, Fernando interrompeu o silêncio com estas palavras:
- Vamos, minha Rosa, sossega, basta de lágrimas! Fala-me do teu amor, dos transportes da tua alma, do nosso futuro de venturas, de tudo finalmente que diga respeito à felicidade que hoje começamos a gozar. Diz-me, meu anjo: Consideras-te agora verdadeiramente feliz?
- Oh! sim, muito! Parece-me que uma nova existência se abriu para mim; diga-me muitas vezes que me ama, repita-me a todos os instantes essa palavra mágica que me faz estremecer de alegria o coração. O Fernandinho ama-me muito, não é verdade?
- Amo-te, sim, louquinha, amo-te o quanto é possível amar-se na Terra.
- E não quererá nunca outra mulher para sua esposa, não foi o que me disse?
- Sim, sim, és tu a única que será capaz de me fazer verdadeiramente ditoso.
- Como havemos de ser felizes!... Unidos para sempre!... Olhe, Fernandinho, há de depois estar sempre junto de mim, repetindo a todos os momentos que me quer muito, que não vê outra mulher senão a mim, e que sou para si a mais bela de quantas há, não é verdade?
- Assim sucederá. Imagina que delicioso porvir nos aguarda!...
- Ah, Fernandinho, e se o senhor um dia se aborrecesse de mim? - interrompeu ela subitamente.
- Eu aborrecer-me... Acaso desvairas, Rosa? - atalhou o enamorado jovem com sinceridade.
- Ah, Santa Virgem, se tal sucedesse, parece-me que morreria de pesar; dizem que os homens são tão ingratos.