- Obrigado, minha querida, obrigado. E, agora que já me não resta a mais pequena dúvida do teu amor, retiro-me porque a noite já vai bastante adiantada, e a tua avó pode vir surpreender-nos. Antes, porém, de nos separarmos, tenho que fazer-te um pedido: de hoje em diante começa para nós uma nova época de venturas e por isso espero que não perderás um só momento de nos podermos encontrar a sós, para falarmos, sem receio, do nosso amor e do nosso futuro: recomendo-te também que nunca te esqueças das tuas promessas.
- Descanse, Fernandinho; era já impossível deixar de o amar...
- Adeus, Rosa, até amanhã.
- Adeus.
Os dois amantes apertaram ternamente as mãos, e Rosa, apoderando-se instintivamente de uma das de Fernando, levou-a aos lábios, e, talvez sem ter bem a consciência do que fazia, imprimiu-lhe um beijo, murmurando:
- Que amor este, meu Deus!...
Depois, como arrependida ou envergonhada da sua fraqueza, fugiu para casa, enquanto que Fernando, com passo vagaroso, caminhava para a sua habitação, com o pensamento suavemente preocupado pelas cenas que tinham ocorrido.
Quem o seguisse de perto teria ouvido, num momento, proferir em voz baixa estas palavras:
- Parece que a amo realmente!... Mas Deolinda?...
Durante todo o tempo da entrevista dos dois jovens, alguém, uma única pessoa, tinha sido testemunha ocular de tudo quanto se passara entre eles, e ouvira decerto todo o colóquio.
Esse alguém era um homem, que, encoberto pelo tronco de um velho álamo que havia próximo da casa de Rosa, e favorecido pela escuridão da noite, assistira imóvel como uma estátua, e sustendo até a própria respiração, àquela cena de amor, que faria a inveja de muitos entes desgraçados que nunca conseguiram sequer apertar a mão do anjo dos seus sonhos.