Poder-me-á ele ser infiel e quebrar um dia os juramentos que fez?... Não o creio; Fernando tem uma boa alma e seria incapaz de cometer uma tal perversidade!... Mas, ainda assim, se ele um dia me deixasse, não me deveria eu considerar bem feliz por me ter amado sequer uma hora que fosse? Vês, portanto, qual é o meu propósito: amá-lo-ei enquanto a vida me fizer pulsar o coração. Quanto a ti, bem conheces que nunca te poderia amar, e por isso faz por esquecer essa afeição que dizias consagrar-me, e trata-me como se tratasses uma estranha.
- Ah! E foi ele quem, num só momento, me roubou todas as esperanças, toda a felicidade do meu futuro... Oh! amaldiçoado!...
- Não o arguas de nada, António; se alguma culpa há, é toda minha; disse que me queria muito, que só eu podia fazer a sua felicidade; acreditei-o, aceitei-lhe os seus protestos e entreguei-lhe o meu coração.
- Dessa forma é forçoso perder qualquer esperança que eu ainda pudesse nutrir, não é verdade?
- Seria escusado repetir o que já te disse.
Estas palavras foram para o pobre jovem o último golpe. Inclinou a cabeça para o peito e ocultou o rosto entre as mãos, como se quisesse esconder as angústias e o desespero que o alanceavam. No meio das torturas em que se debatia, brilhara-lhe nos olhos um lampejo sinistro, terrível, ameaçador, como se do íntimo da alma houvesse feito um juramento de insaciável vingança. De repente, porém, esse fogo extinguira-se, e, encarando Rosa com um aspeto de amargurada resignação, murmurou tristemente:
- Como sou desgraçado, meu Deus! - e duas lágrimas escoaram-se-lhe, vagarosas, pelas faces pálidas.
Rosa pareceu comover-se, e, cedendo a um impulso de compaixão, aventurou-se a dizer:
- Então que é isso, António? Assim desesperas por um mal que não tem cura! Olha, meu amigo, há muitas raparigas na aldeia! escolhe uma de entre elas, ama-a muito e verás como me esqueces e como serás feliz.