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- Ora deixa-te de loucuras! Bem sabes que, logo que termine a minha formatura, volto para a companhia dos meus pais; poderia deixar de vir, mas só se morresse.
- Oh! não diga isso, que me despedaça o coração.
- Bem. Então já vês que não há motivo para tantas lágrimas.
- E quem sabe se, quando regressar, quererá sequer ver-me?!
- Continuas?
- Diga-me com franqueza: o Sr. Fernandinho já não me tem a afeição que me tivera em outro tempo, não é verdade?
- Enganas-te: o amor que sempre te consagrei não afrouxou sequer um momento.
- Então qual é a causa dessa sua frieza? porque têm rareado tanto as suas vindas aqui?
- Bem sabes que os preparativos de viagem têm-me tomado grande parte do tempo, e por isso...
- Ah! Fernandinho, o senhor não diz a verdade; diz-mo o coração.
- Pois, se to diz, mente-te. Que motivos poderia eu ter para deixar de te querer?
- Não sei... Talvez o aborrecimento que começo a causar-lhe. Que triste pressentimento me assalta, meu Deus!
- Pode saber-se qual é ele?
- O de se realizarem as proféticas palavras de António!
- Continuas a ser supersticiosa?
- Sou-o neste ponto, não o nego, e sabe porquê?... Porque tenho conhecido no Sr. Fernando uma notável mudança. Ia até jurar pela alma da minha mãe que o senhor já me não ama!
- Enganas-te, Rosa...
- Não engano, não, Sr. Fernando. Ah, meu Deus! Que será de mim, coberta de opróbrio e de vergonha?...
- Cala-te; dei a minha palavra e espero cumpri-la; desejaria que não fizesses tão mau conceito de mim.
- Perdão, Sr. Fernando, perdão. O amor que lhe tenho e o receio de um dia me desprezar é que me faz ser assim incrédula. Perdoa-me, não é verdade?
- Estás perdoada; agora não falemos mais nisso. Amanhã, ao romper do Sol partirei, e, como já te disse, só voltarei concluída que seja a minha formatura.