Apocalipse - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 79 / 180

Mesmo para os primeiros cientistas ou filósofos, «o frio», «o húmido», «o quente», «o seco» eram em si próprios coisas, realidades, deuses, theoi. E davam origem a coisas.

Com a chegada de Sócrates e de «o espírito», o cosmo morreu.

Durante dois mil anos o homem viveu num cosmo morto ou agonizante, à espera de um futuro céu. E todas as religiões foram religiões do corpo morto e da recompensa adiada: para usar uma palavra cara aos filósofos, escatológicas'.

Para nós, é muito difícil compreender a mentalidade pagã.

Quando nos são apresentadas traduções de histórias do antigo Egipto, quase nos parecem totalmente incompreensíveis. A culpa talvez seja das traduções; realmente, quem poderá ter a certeza de saber ler a escrita hieroglífica? Todavia, quando nos são apresentadas traduções da tradição popular bosquímane ficamos num quase idêntico estado de perplexidade. As palavras podem ser inteligíveis, mas é impossível seguir a ligação que entre elas existe.

Mesmo quando lemos traduções de Hesíodo ou do próprio Platão sentimos que ao movimento foi arbitrariamente dado um significado que é falseador da sua conexão interna. Por mais que queiramos convencer-nos do contrário, o abismo entre a mentalidade do professor Jowett e a de Platão é quase intransponível; em última análise, o Platão do professor Jowett só é o professor Jowett que a custo exala algo de um vivo Platão.





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