Divorciado do seu vasto fundo pagão o filósofo grego não passa, na realidade, de mais uma estátua vitoriana com toga - ou clâmide.
Para apreendermos o Apocalipse, temos de levar em conta o funcionamento mental do pensador ou poeta pagão - os pensadores pagãos eram necessariamente poetas - que parte de uma imagem, põe em movimento essa imagem e deixa-a executar um determinado trajecto ou circuito próprio, passando então para outra imagem. Tal como no-lo provam os seus mitos, os antigos Gregos eram excelentes pensadores por imagens. As suas imagens eram maravilhosamente naturais e harmónicas. Seguiam bem mais a lógica da acção do que a da razão, e não tinham nenhuma moral que lhes interessasse defender. Mesmo assim, eles mantêm-se mais perto de nós que os orientais cujo pensamento por imagens muitas vezes não segue nenhuma espécie de plano, nem sequer a sequência da acção. Podemos vê-lo nalguns Salmos onde se passa de uma imagem para outra sem entre elas existir nenhuma conexão essencial, apenas uma esquisita associação. Os orientais gostavam disto.
Para avaliar a forma de pensamento pagã temos de desistir da linearidade que nos é própria, de um começo até um fim, e deixar a mente mover-se em círculos ou esvoaçar por aqui e além, sobre um feixe de imagens.