As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 33: XXXIII Pág. 236 / 332

Boas-noites.

E, colocando-se diante da porta das suas pupilas, à frente da qual haviam chegado, afastou-se para deixar passar Daniel.

- Mas... - ia este a dizer.

- Boas-noites - repetiu secamente o reitor, e tão secamente que fez perder a Daniel a coragem para insistir. Curvando-se com respeito diante do velho, retirou-se dali.

O reitor, ficando só, entrou em casa das raparigas.

Depois de trocar algumas palavras com Margarida, chamou de parte Clara, e em tom um pouco desabrido, disse-lhe:

- Julgo que recebeste hoje um aviso do teu anjo da guarda, Clara. Olha agora se o aproveitas.

Quando a rapariga, levantando para ele os olhos, ia a interrogá- lo, o padre afastou-se, dizendo-lhe simplesmente:

- Adeus.

Dissera bem o reitor.

Clara ouvira de facto o seu anjo da guarda.

Aquela noite, conheceu o perigo do caminho que seguira, a sorrir; e resolveu fugir-lhe. E iria já a tempo? pensava ela.

Da involuntária entrevista, que tivera com Daniel, sairia salva de todo? de todo livre de suspeitas?

A voz de João Semana, chamando-a de longe, mostrava-lhe que ela fora reconhecida. Mas que se passara depois? O reitor parecia também estar informado do sucedido. Como o teria suspeitado, ou previsto?

Mas, por outro lado, o tom moderado das palavras que lhe dissera, levaram-na a crer que ele conhecia a verdadeira extensão da sua culpa e não a exagerava.

No meio desta corrente de pensamentos, Clara às vezes estremecia.

Se no dia seguinte, lembrava-se então, se levantasse contra si um desses boatos surdos, rápidos a propagar-se, prodigiosos a crescer, que infamam, que mancham de lodo as mais firmes reputações e inoculam veneno subtil numa existência inteira?

A esta lembrança, Clara erguia as mãos com terror.





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