Estás agora satisfeito, João Semana? Pois é verdade, Daniel meditava grandes novidades para o dia do casamento do irmão, grandes festas por casa dele e da noiva, et caetera, et caetera. Mas o seu projecto não mereceu, nem merece, a minha aprovação.
Daniel baixou os olhos, ao ouvir aquelas palavras do padre.
Este prosseguiu:
- Clara pensa como eu, mas este homem é obstinado e, através de tudo, teima em seguir a sua vontade; mas eu protesto que...
- Vejo que não me entendeu, Sr. Reitor - disse Daniel, com vivacidade.
- Entendi, entendi, homem. E julgo que não acha a propósito entrar agora em maiores explicações.
Daniel guardou silêncio.
- Mas então não podiam tratar disso em casa? - teimou João Semana, que não largava assim facilmente a ideia, de que se tivesse apossado.
- E a dar-lhe! Não há que se lhe faça! - dizia o reitor. - Homem, nós não queríamos que a Margarida soubesse nada disto, porque... porque... Mas tu vais a cavalo e nós a pé. Segue o teu caminho e apressa-te, que a Joana já há-de estar com cuidado pela tua demora.
- E eu com vontade à ceia.
- Então por que esperas? Vai com Deus, homem.
- Até amanhã, Abade. Adeus, Daniel. Olhe lá você como se porta, rapaz. Juizinho!... se não está mal servido com a sua vida.
Lembre-se daquele frade...
- Ai, se pegas a contar histórias, não chegas a casa à meia- -noite.
- Pois já não conto.
E, fustigando a égua, desapareceu cedo da vista dos dois.
Logo que ele se afastou, Daniel ia a dirigir-se ao padre.
- Sr. Reitor, foi providencial a sua vinda. Acredite, porém...
O gesto, cheio de severidade, com que o reitor o acolheu, não o deixou continuar.
- Basta. Não quero escutá-lo. Explicações não as preciso, porque ouvi tudo; justificações não as tem, não as pode ter, para dar.