A noite era de 27 de Dezembro de 1846, muito fria. Bebia-se forte. A garrafeira da casa do arco era um calorífico. O Macdonell, muito rubro, naquela bebedeira crónica que lhe assistiu na vida e na morte, esmoía a ceia passeando num vasto salão, de braço dado com uma formosa senhora da casa, D. Emília correia leite de Almada. Dir-se-ia que o bravo septuagenário tinha vencido uma batalha decisiva, e procurava matizar com flores de cupido os seus louros de Mavorte. E o Cerveira lobo bebia e relatava proezas dos seus saudosos dragões de chaves com gestos bélicos e as pernas desviadas como se apertasse nas coxas a sela de um cavalo empinado no fragor da peleja. Nisto entrou um camarada, às 11 da noite, a chamar apressadamente o quartel-mestre-general, que o procurava com muita urgência um capitão de atiradores do batalhão do Pópulo.
O Vitorino de fagilde encontrou na sala de espera o capitão pinho leal, um robusto e jovialíssimo rapaz, de trinta anos, com uma fé política, antípoda da sua forte inteligência - uma espécie de poeta medieval com um grande amor romântico às catedrais e às instituições obsoletas e extintas. Ele tinha muitos destes camaradas visionários e respeitáveis na sua falange da madressilva.