- Sim, minha senhora.
- Então onde conheceu minha mãe?
- Na casa do seu pai e na do marido.
- Quando? Eu nunca a vi.
- Decerto nunca me viu. Vossa Excelência nasceu depois.
- Mas quem é, minha senhora! Pelo divino amor de Deus, tire-me depressa desta ansiedade.
- Eu preciso também sair dela... preciso abraçá-la preciso apertar ao seio a filha de... A minha irmã Eugénia.
E, dizendo, tirou-a para si com veemente impulso, e beijou-a sofregamente, exclamando:
- Matilde, eu sou sua tia Ricardina!
A viscondessa deixava-se abraçar, sem compreender as palavras, todavia claríssimas. Ouvira, porém, dizer Ricardina; e desde muito que a sua mãe, miúdas vezes, lhe contara que uma infeliz irmã, que tivera, tinha morrido no Brasil, porque nunca mais chegaram notícias dela.
Ricardina e Brasil foram reminiscências que lhe iluminaram a confusão e perplexidade do espírito. Estas combinações formou-as instantaneamente; e, bem que as expressões naturalmente lhe faltassem, o espasmo em que permanecia nos braços de Ricardina inculcava dúvida, ou talvez incredulidade. Como quer que fosse, aquele silêncio letárgico poderia a mãe de Alexandre, e, pior ainda, a fugitiva amante de Bernardo Moniz, interpretá-lo como antojo e desprazer de tal encontro. Ferida da injusta suspeita. D. Ricardina, súbito esfriada do calor impetuoso do júbilo ou da saudade, disse:
- Perdoe ao meu coração este desafogo. A Sr.ª Viscondessa não há de envergonhar-se de encontrar a irmã da sua mãe, a mulher condenada a não ter mais família que um filho.
Matilde, desapressada já do seu assombro, retomou para o seio a retraída senhora, e exclamou:
- É minha tia Ricardina? É? Alexandre é meu primo? Santo Deus! Desperte-me deste sonho.