.. Diga-me que é a irmã da minha mãe, que tanto se lembrou no fim da vida da sua desgraçada Ricardina.
- Se o seu pai aqui estivesse...
- O meu pai? Diga-me o nome do meu pai... - atalhou a viscondessa.
A filha de Clementina sorriu da dúvida de Matilde, e disse:
- O seu pai era meu primo, Luís Pimentel.
- Ah! - clamou a viscondessa como esclarecida por outro raio de luz - seu filho é também Pimentel.
- Pois, se ele é meu filho... - disse com maviosas lágrimas Ricardina.
- Ó Virgem do Céu! que alegria! que medo eu tenho de estar delirando! - exclamava a viscondessa, pondo as mãos, comprimindo a cabeça, dando grandes passos no abafado tapete.
A irmã de Eugénia, de novo abraçada na sobrinha, dizia-lhe que Deus lhe reservara para tarde as compensações das grandes saudades, que a torturaram vinte e dois anos.
- Eu soube, há muito tempo, que a minha irmã vivia - prosseguiu a mãe de Alexandre - , sabia, e não pude dizer-lhe: “Minha irmã, não me procures, não me respondas; mas sabe que eu ainda vivo, e estou aqui tão perto de ti...”
- E porque não lho disse, minha tia?!
- Porquê?... Eu lho direi, quando for tempo...
- Diga-mo já - suplicou a sobrinha.
- Pois sim... digo-lhe somente o que é indispensável dizer-se... porque o pai do meu filho... morreu... morreu infamado...
Os soluços embargaram-lhe a voz.
- Não me conte essa desgraça, que a minha mãe tudo me contou - disse Matilde.
- Morreu infamado... - disse vigorosamente Ricardina - mas penou inocente; porque o pai do meu filho não matou os lentes. Não os matou, minha sobrinha, juro-lho pela vida do meu Alexandre; mas teria sido enforcado se o seu avô e o meu pai o não mandassem matar. Deus perdoe ao homem sanguinário!... E perdoai-me vós, Senhor, se já o julgastes no Vosso divino juízo.