Consentiu o abade que a sua filha se despedisse dele. Eugénia deplorou medianamente a partida da irmã. Quem chorou ansiadíssima foi Clementina, abraçada à filha que ficava. Tais choros pareciam desarrazoados ao entendimento do padre Leonardo, e à própria filha.
Fez-se na casa um silêncio triste. Ouvia-se, porém um alto soluçar na adega, onde se escondera quem quer que fosse. Era Norberto, atabafando o rosto nas rimas das cepas. com receio de ser ouvido.
Não chorava já ninguém mais. Dizia o abade a Eugénia:
- Tu é que és a minha filha. Hás de ser muito rica. Mereces-mo. Tudo o que eu tenha há de ser teu.
- Isso não - contrariou a menina, dorida de saudades. - Ricardina é minha irmã. O pai não lhe queira mal.
- Achas bonito que ela quisesse casar com Bernardo?
- Coitadinha! apaixonou-se por ele... A gente...
- Qual apaixonou-se! A tua irmã é mulher sem sentimentos nobres... e a tua mãe...
Calou-se de si mesmo envergonhado. Ia dizer que a mãe não era mais pundonorosa do que a filha. O receio de injuriar indiretamente Eugénia amordaçou-lhe o insulto. Para divertir o ânimo irritado, perguntou à filha se estava pronta a cumprir a sua promessa de casar com o primo.
- Quando o pai quiser.
- As dispensas estão lavradas. Pode marcar-se o dia. Há de ser logo que a tua mãe chegar.
E convieram em esperar a mãe; não porque o abade julgasse precisa e decorosa à cerimónia a presença maternal de D. Clementina: era o anseio orgulhoso de ver entrar com a filha em casa dos seus pais.
No dia em que se esperavam a senhora e os criados por noite alta, chegaram eles.
- A fidalga? - perguntou o abade.
- Ficou lá.
- Aonde?
- No convento com a menina. Aqui está uma carta do primo da vossa senhoria, onde as senhoras passaram a noite.