O Retrato de Ricardina - Cap. 12: CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS Pág. 76 / 178

- Salva-a, se puderes... - disse o médico ao irmão, e saiu.

Foi à Ponte, coberta de académicos e povo. Contrafez-se, quando um amigo lhe disse: “Cuidado, que te denuncias!”

Perguntava serenamente se já viera notícia dos nomes dos presos, e quantos eram. Cinco, todos sabiam; mas ninguém dava a certeza dos nomes.

Ao meio-dia, entraram os presos por entre as turbas que voz em grita levantava “vivas” a D. Miguel I. Francisco Moniz examinou o trajo dos cinco presos, que traziam as caras ainda cobertas, excetuando coiceiro, que entrou sem o lenço, sorrindo aos conhecidos, e zombando sarcasticamente dos insultadores.

Respirou o médico. Nenhum dos quatro vestia como seu irmão. Correu a casa, encontrou Ricardina de joelhos, ao lado do teólogo, que também orava. Abraçou-os ambos, e clamou sofreando o júbilo:

- Não é nenhum dos cinco... Salvou-se...

- Salvar-se-ia?! - perguntou o irmão desconfiado. - Não será ainda preso, ou denunciado pelos cúmplices?

- Bem fundado receio! - obtemperou Francisco Moniz. - Que resolves tu?

- Que fujamos.

- Será bastante para nos denunciarmos.

- E pensas que nos salva o ficar? Crês que Bernardo volte a Coimbra? Nunca mais. Se pôde fugir, procuremo-lo na nossa casa. Que nos disse ele? Lembras-te? Que levássemos esta senhora a casa do nosso pai.

Ricardina seguia com um vivo movimento de olhos o diálogo dos dois; mas o restante da fisionomia parecia marasmado. O médico atentava nela suspeitoso de maus sintomas. Incitou-a com perguntas; mas nem sequer respondia soluçando. No entanto, o pulso batia aceleradíssimo, e as faces conservavam a compostura não indiciativa da demência, chamada espasmódica. Levaram-na ao quarto de Bernardo.

Neste comenos, voltou um académico vizinho com a notícia de terem sido presos quatro estudantes no Rabaçal, dois na Ega e um em Pereira .





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