Madame Bovary - Cap. 24: TERCEIRA PARTE – I Pág. 268 / 382

Eram as obras que tratavam da catedral.

- Imbecil! - resmungou Léon, correndo para fora da igreja. Um garoto traquinava no adro.

- Vai-me buscar um fiacre!

O miúdo partiu como uma bala pela Rue des Quatre- Vents; ficaram então sós durante alguns minutos, face a face, um pouco embaraçados

- Oh, Léon. Verdadeiramente..., não sei... se deva... ! - Fazia trejeitos. Depois, com um ar grave, continuou: - É que não é decente, sabe?

- Porquê? - replicou o escriturário. - É coisa corrente em Paris!

E esta palavra, como argumento irresistível decidiu-a.

Entretanto, o fiacre não chegava. Léon tinha receio de que ela voltasse a entrar na igreja. Finalmente apareceu a carruagem.

- Pelo menos saiam pela porta do norte! - gritou-lhes o suíço, que ficara no limiar -, para verem a Ressurreição, o Juízo Final o Paraíso, o Rei David e os Condenados nas chamas do Inferno!

- Para onde vai o senhor? - perguntou o cocheiro.

- Para onde você quiser! - respondeu Léon, empurrando Emma para dentro do carro.

A pesada máquina pôs-se em andamento.

Desceu a Rue Grand-Pont, atravessou a Place des Arts, o cais Napoléon, a Pont Neuf, e estacou diante da estátua de Pierre Corneille.

- Siga! - disse uma voz vinda do interior.

O carro arrancou novamente e, depois da encruzilhada La Fayette, deixou-se embalar pela descida e entrou a galope pela estação do caminho-de-ferro.

- Não, siga em frente! - gritou a mesma voz.

O fiacre saiu do gradeamento e, pouco depois, entrando na Marginal, foi trotando suavemente, no meio dos grandes ulmeiros. O cocheiro limpou a testa, entalou o chapéu de cabedal entre os joelhos e desviou a carruagem paraa alameda exterior, à beira da água, rente ao relvado.

Foi seguindo a margem do rio, pelo caminho da sirgagem, coberto de pedras soltas, e, por muito tempo, do lado de Oyssel, para lá das ilhas.





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